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O poder das mulheres
Por Lilian Schiavo
Eu não estou aceitando as coisas que eu não posso mudar, estou mudando as coisas que não posso aceitar
Ângela Davis
Começou sem querer, no meio de uma reunião de mulheres, algumas já eram amigas de longa data, outras ainda tímidas, recém chegadas ao grupo. Pertencemos a um coletivo de mulheres reais, de carne e osso, cheias de qualidades, mas também de defeitos, com muitas histórias de perdas, erros, acertos e conquistas para contar. A minha história certamente vai parecer o enredo de uma novela mexicana, com direito a momentos hilários e outros muito tristes e comoventes.
As mulheres superpoderosas com capas e poderes sobrenaturais são lindas de ver mas impossíveis de encontrar. E está tudo bem, vivemos nossas vidas reais, às vezes num mar de rosas, às vezes aos trancos e barrancos e de vez em quando à beira de um precipício Enfrentamos nosso dia a dia com coragem, engolindo sapos, escancarando portas emperradas e abrindo novos caminhos.
Voltando ao início…
Imagine muitas mulheres num evento onde o microfone pode ser usado por todas, onde cada uma tem voz e o direito de falar e ser escutada com atenção, empatia e sororidade. As amarras vão se soltando, elas se sentem livres para contar segredos escondidos durante anos, livres para falar das dores e dos amores.
É inexplicável, e o efeito é surpreendente. Faz um bem enorme, lava a alma e liberta de segredos que tolhiam os movimentos e provocavam uma angústia paralisante. E, como num efeito dominó, as histórias vão surgindo, como denúncias, relatos de violências e abusos sofridos, de traumas e incompreensão.
A voz de cada uma encontra eco nas demais. Como num passe de mágica, elas criam um círculo de irmandade, se dão as mãos, se olham, tratando e curando as feridas umas das outras, elas se protegem e se entendem.
Sororidade é muito mais que uma palavra, é um exercício diário que precisamos praticar para nos apoiar, fortalecer, colocar os sapatos da outra e entender o que ela sente, sem rivalidades, sem julgar ou apontar o dedo. A proposta é gerar uma onda que se espalhe como num efeito dominó, derrubando barreiras que impeçam as mulheres de serem o que quiserem, de ocuparem os lugares que quiserem e não apenas os que são permitidos.
Que possamos ser aceitas, ouvidas e respeitadas.
Lilian Schiavo é presidenta nacional da empresa OBME
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