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Guarapari está entre as praias mais belas do Espírito Santo
Por Beatriz Herkenhoff
Faz parte das minhas memórias afetivas marcantes. Seus recantos impactam pela beleza, suas praias, com águas cristalinas, nos convidam a ficar, relaxar, desfrutar, mergulhar, nadar, navegar e fazer piqueniques.
Em #Guarapari somos integrados à natureza e formamos uma unidade com o céu, o sol, a lua, a água, a terra e o mar. O nascer e o pôr do sol são fantásticos. A lua cheia é esperada com expectativas e alegria.
Praias paradisíacas
Cada uma com sua originalidade, todas com sabor de infância, de aventura, com cheiro de vida em abundância. Recantos que possibilitaram experiências que nos levaram a ir sempre além. O centro de Guarapari com as praias da Areia Preta, do Meio, das Castanheiras, dos Namorados e das Virtudes, é um bálsamo para o corpo e para a alma. Os quiosques e restaurantes surpreendem com pratos deliciosos: ostra, mariscos, peroá frito, caranguejo, moquecas de peixe, de camarão e de siri.
Passo férias em Guarapari desde os meus seis anos (1963), mas em março de 2020 essa rotina foi interrompida com a #pandemia. Em 2022, quando reduziram-se os riscos de contaminação pela #Covid 19, os veranistas voltaram a desfrutar as maravilhas que Guarapari oferece.
As amigas de minha mãe retomaram o ritual de formar uma alegre roda de conversa dentro e fora d’água. Assuntos acumulados, muitas histórias engraçadas, afetos que geram confiança. Viajei no tempo observando as crianças brincando, nadando, fazendo piscinas e se enterrando na areia, com a participação empolgada de seus pais.
Muitas crianças nascidas no período do #isolamentosocial, desfrutaram desse ambiente mágico pela primeira vez. Foi emocionante observá-las livres, leves e soltas. Sem medo da água gelada, sem medo das ondas, sem medo de ser feliz. Mostrando que a vida continua, os obstáculos são pedras a serem ultrapassadas e que a natureza é fundamental para o resgate da gratidão e da alegria.
Quero destacar três lindas mulheres que se reencontraram na praia e partilharam histórias envolventes sobre quando começaram a frequentar Guarapari: Martha Machado Caiado com 85 anos, Helida Lima Herkenhoff com 87 anos e Sofia Hassen Santos, com 90 anos. Muitas trocas, recordações e memórias partilhadas!
Legados de amor por Guarapari que passaram de geração em geração
Martha frequenta Guarapari desde 1941, período em que faltava água e a energia funcionava com motor. Por isso, ninguém podia ter geladeira.
“Ficávamos três meses em Guarapari. Vínhamos de caminhão e como a família era numerosa fazíamos uma verdadeira mudança. Éramos conhecidos como “a Família da Vaca” porque meu pai trazia uma vaca para garantir o consumo de leite para todos. Trazia também carne de porco na banha, cinco quilos de manteiga na lata (conservada com água de sal), mandiocas (que eram enterradas na areia).”
Seu avô materno e genros construíram suas casas. Quando tudo estava terminado, trocaram o burro e a carroça (que tinham sido chaves na construção) por um terreno perto da Matriz Velha. Todos os dias, as 15h, o avô levava Martha e os irmãos para ver as tartarugas nas pedras do #Siribeira. Elas apareciam sagradamente no mesmo horário.
Martha recorda :
“Das inúmeras basculantes que passavam diariamente em frente à sua casa carregando areia monazítica. As mesmas eram transportadas em um navio pequeno e depois levadas para os Estados Unidos da América num navio grande.”
Martha cresceu com seus irmãos curtindo Guarapari. Possibilitou férias inesquecíveis para os filhos. E criou a tradição de apresentar o mar aos netos e bisnetos na mais tenra idade.
Helida começou a frequentar Guarapari em 1948. Nesse período, ficava hospedada em uma pensão. Narra que à noite faltava energia elétrica e iam passear com lanternas. No período de lua cheia faziam serenata nas pedras da praia das #Castanheiras. Naquela época não tinha ponte que ligava #Muquiçaba a #Guarapari, os carros atravessavam de balsa.
Helida descreve:
“Em 1963 meu pai comprou uma casa em frente à praia da #AreiaPreta. Os carros atolavam com frequência, pois a região era um areal com vegetação nativa. Meu pai e as crianças corriam com tábuas para tirá-los do atoleiro. Tudo virava festa.”
“A água encanada distribuída nas residências vinha de uma nascente. Com o crescimento do vilarejo foram utilizados outros meios de fornecimento, como: lagoas e rios. Faltava água com frequência, por isso, meu pai construiu uma cisterna gigante e fornecia á gua para os vizinhos, abastecendo suas caixas d’água. Quando a maré estava alta, as águas do mar das praias da Areia Preta e do Meio se encontravam. O clube Siribeira virava uma ilha. Guarapari atraia turistas em busca de cura através de suas areias monazíticas.”
“Durante a infância dos meus filhos, mudávamos para Guarapari, pois, as férias escolares duravam três meses. A vida ao ar livre era intensa. Adultos e crianças construíam piscinas gigantes nas areias da praia, faziam castelinhos. As crianças rolavam na areia aquecida e ficavam como bife a milanesa. Passavam barro e areia preta no corpo. Meu pai ficava horas separando as areias por cores. Também colecionava conchas e caramujos separando-os por tamanho e semelhança. Excelente hobby que contribuiu para um envelhecimento saudável. Em noite de lua cheia, nossa família ia para a praia pegar #Guruça (caranguejo pequeno e não comestível). Depois de um tempo brincando animadamente, todos eram soltos e voltavam para seu habitat natural: as areias da praia.”
Helida também afirma:
“A partir dos anos 1990, Guarapari continuou sendo referência para minhas netas e meu neto. Ficávamos na praia de manhã, à tarde e à noite. Muitas eram as atrações: passeios de escuna, de banana, futebol de sabão, discar, futebol na praia e jogos de cartas e tabuleiros.”
Sofia dialoga com Martha e Helida sobre Guarapari. Conta que aos 90 anos:
“As lembranças ficam mais fortes e os detalhes que achávamos perdidos no tempo voltam com nitidez.”
“Conheci Guarapari em outubro de 1953. Foi o lugar escolhido por Wilson para passarmos nossa lua de mel. Ficamos hospedados no #RadiumHotel. Desde então, Guarapari, com suas areias (pretas com um mix de bege, dourado e bronze), águas transparentes (quase sempre geladas e com alto teor de sal) e vento constante, passou a ser sinônimo de: férias, diversão, superação de desafios, união da família e a graça de Deus para nós.”
“Passávamos mais de um mês preparando nossa temporada em Guarapari. A viagem para a praia já era parte da aventura, pois, levávamos quase sempre mais de um dia de viagem para percorrer cerca de 160 km (Alegre, ES). Chegávamos em Guarapari em “comboio”, família grande, muitos carros, incluindo caminhão e várias camionetes (além dos carros de passeio). Tínhamos que trazer tudo, desde caixotes de mantimentos (sacos de arroz, feijão, etc.), carnes nas latas, dezenas de latas de ‘quitanda’, caixotes de doces caseiros, cuidadosamente embalados em panos de saco alvejado. E muitos animais! Vaca de leite (com bezerro no pé e o campeiro para cuidar deles), cabritos e carneiros, leitões prontos para engorda, um ou dois porcos. Além de inúmeros engradados com patos, perus, frangos e galinhas poedeiras que garantiriam os fartos almoços de domingo, ovos e leite todos os dias. Sacos de limão, aipim, cará, inhame e batata doce eram cuidadosamente enterrados, intercalando camadas de areia e os alimentos. Ficavam ali por meses e iam sendo desenterrados na medida do necessário. Esta tarefa era coordenada por minha sogra Mariquita.”
“A família de meu marido já vinha desde 1947. Orientados por um médico, chegaram a procura dos efeitos medicinais da areia preta. Quando me casei em 1953 foi também incorporada em minha história estes períodos anuais nas praias de Guarapari. No princípio ficávamos em casinhas alugadas das famílias dos pescadores, depois meu marido e os irmãos, adquiriram um terreno e construíram suas casas.Guarapari tinha suas peculiares naqueles tempos: Faltava água e faltava luz. Verduras frescas só eram encontradas para compra num sítio na chegada de Perocão. Peixes também eram adquiridos no final da tarde em Perocão.” Caranguejos eram fartos no mangue, onde hoje é a Igreja Católica nova e o mercado. Eram catados pelas crianças e jovens da família que chegavam cobertos da lama do mangue.”
“As melhores brincadeiras das crianças era o pula corda com o cipó rasteiro que dava na beira da praia (tinha umas flores azuis, quase roxas) e as guerrinhas de mamonas (pés de mamona se espalhavam por todo lugar). Íamos a praia bem cedinho, voltávamos para o almoço. Depois da sesta voltávamos de novo para praia. Muitas vezes, nas noites de lua cheia tomávamos banho de mar iluminados pelo luar.”
“São tantas lembranças! A maior delas é que uma de minhas filhas nasceu em Guarapari, a Thereza Christina. Estávamos numa casinha perto do hoje hotel Coronado. Minha sogra pediu aos netos mais velhos que levassem as crianças para a praia das Castanheiras e só voltassem quando ela avisasse. Fui acompanhada pelas mulheres da família e uma parteira nativa de Guarapari.”
“Interessante nossos passeios à noite. Incluíam degustar deliciosos pastéis de massa fina e caldo de cana que se espalhavam por cada esquina. Num desses passeios Wilson e os irmãos pegaram um tatu e uma paca onde hoje é a rua principal. E as mulheres rendeiras da Rua das Bonecas? Ficavam na porta de suas casas fazendo renda de bilro e bonequinhas de conchas. Inesquecíveis também as noitadas, bailes e carnavais no Siribeira Clube e no Radium Hotel. Fazíamos muitas serenatas nas areias da praia, contando com a presença de Altemar Dutra, amigo da família que nunca perdia uma oportunidade para soltar o vozeirão!”
“Posso dizer que nossa família desbravou muitas praias do município. Fomos a primeira família a ir para a praia de Setiba e realizar inesquecíveis piqueniques Íamos de carro sobre as areias da praia do #Morro e a de #SantaMônica, driblando a maré e muitas vezes ficando com o carro agarrado nas areias. Quando ninguém ousava passar da metade da praia do Morro, nós frequentávamos uma prainha depois do final da praia. A diversão era completa ao vermos as tartarugas bem pertinho de nós. Eram muitas e nadavam livremente.”
“E o que falar das #Três Praias? A primeira vez que fomos lá fizemos uma caminhada longa até chegar nas areias da praia. A água potável para bebermos durante o dia foi levada em duas talhas de barro imensas, carregadas nos ombros dos fortes da família. O leite das crianças num latão de cobre de 25 litros. Levávamos frango ‘muquiado’ (uma espécie de farofa de frango deliciosa), pernil afiambrado e lombo assado, abóboras, mandioca e batata doce, milho verde, ovos cozidos e muitas quitandas.” Cozinhávamos sururu e ostra que arrancávamos nas pedras.
“A magia de Guarapari vai ficar para sempre! Agora são nossos netos, bisnetos e tataranetos que desfrutam das modernidades e facilidades desta cidade maravilhosa! Sempre recordo que este lugar é mágico! Um presente de Deus plantado em terras capixabas!“ (Sofia).
Memórias que precisam ser preservadas
Eu, Beatriz, sinto-me honrada por dar voz a essas mulheres sábias, que nos ensinam muito com suas experiências. Muitas histórias sobre Guarapari.
Tempos de solidariedade diante das adversidades (falta d’água, luz, falta infraestrutura básica). Tempos de abundância da natureza, fontes naturais espalhadas em várias regiões. Tempos de casas baixas e convivência entre os vizinhos e com os moradores de Guarapari. Tempos em que as relações de compra e venda eram menos complexas.
Infelizmente, nossas riquezas (areia monazítica) sendo levadas sem nenhum controle. Somos convidados a preservar Guarapari e tantos paraísos pelo Brasil afora.
Beatriz Herkenhoff é doutora em serviço social pela PUC São Paulo. Professora aposentada da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo). Autora do livro Por um Triz – Crônicas sobre a vida em tempos de pandemia.
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5 thoughts on “Memórias afetivas que nos fortalecem e renovam”
Viagem no tempo de muitas ambas nossas famílias rssrs
Parecências ..
Bjao querida
Beatriz querida, quantas recordações bonitas!
Ouvir os relatos de tia Hélida e das amigas é uma delicia!
Acabei me lembrando de Marataízes, onde passávamos as férias e também carregávamos verdadeiras mudanças…
Recordar é viver…Guarapari faz parte da história de vida de meus filhos e netos.
Amei seu texto! Ele despertou em mim lembranças de minha infância e juventude; tempo bom, que sempre volta por meio das recordações de emoções vividas.
Parabéns!
Li ,eu e Eduardo mais uma vez ,querida amiga Beatriz ,essas Memórias afetivas ,dessas pessoas maravilhosas ,que nos levaram a percorrer Guarapari e verificar que o encantamento desse lugar é desde sempre .Obrigada, Hélida ,Marta e Sofia .Vou guardar com muito carinho suas recordações e vou juntá-las as minhas, de 40 anos de Vivência e Belas Recordações desse belo e amado lugar onde vejo Deus, em cada canto, em cada pedacinho desse Paraíso. Parabéns e Gratidão Beatriz.
Incrível como algumas informações são passadas erradas por
alguns sites. Pelo menos agora consegui achar a informação
correta que estava procurando. Infelizmente tem muita
informação errada na internet. Compartilhei no meu
facebook. Obrigado.
Me emocionei. Estive nas Virtudes há menos de um mês.