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Por Carlos Monteiro
Dia desses, ouvindo o rádio no carro – sim meus caros e assíduos doze leitores, este que vos escreve ainda prestigia as ondas em frequência modulada -, achei que o locutor/operador de áudio – sim, hoje são uma só pessoa -, havia dado a “moscada” da cartucheira enganchada, pois o refrão se multiplicava como coelhos na forma de um oito deitado. Estava errado; o final da melodia era muito maior que a própria…
Como diria meu querido amigo e companheiro Tavito Carvalho, com seu genial jeito de ser e tiradas para lá de simpáticas:
“Esse compositor tem o dom mavioso da iterminabilidade”.
Referia-se àquelas infindáveis repetições que, mesmo já sendo aplaudido, o artista continua a secundar, sem parar, o final da música de forma ad aeternum.
Realmente, ultimamente, prafrentemente e, até quem sabe, pratrasmente – viva Odorico! – as repetições se tornaram a tônica da “nova” MPB. Parece que tudo é um refrão moto-contínuo e imorredouro.
Baseado, do verbo basear é claro, resolvi compor uma bela canção, com o singelo e sutil título “Bis”, onde só há refrãos. O resultado é pura licença poética e doses cavalares de Rivotril na veia.
Ficou deste jeito:
Então é assim
Nós dois
Vem para mim
Para não haver depois
Repete…
Só vocês…
Mais uma vez…
De novo…
Olho para a janela
Vejo a paisagem
Você na passarela
Não é visagem
Repete…
Só vocês…
Mais uma vez…
De novo…
Juntinhos…
O telefone está frio
Gélida noite
Na manhã arrepio
O toque é um açoite
O toque é um açoite
O toque é um açoite
O toque é um açoite
O toque é um açoite
O toque é um açoite
O toque é um açoite
Repete…
Só vocês…
Mais uma vez…
De novo…
Juntinhos…
O toque é um açoite
O toque é um açoite
Gélida noite…
O toque é um açoite…
Bis por mais trinta vezes.
…
Chico Buarque tem toda razão em bastidores:
“…não bisei/Voltei correndo…/…Chorei, chorei…”
Pano rápido e abafa o som!
Carlos Monteiro é jornalista e fotógrafo
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