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Por Alcir Santos
Depois que Deus criou Adão, que estava sozinho, Ele disse:
Não é bom que o homem esteja só (Gênesis 2:18).
Ele então criou a mulher para Adão, da terra, como Ele havia criado o próprio Adão, e chamou-a de Lilith.
Adão e Lilith imediatamente começaram a brigar.
Lilith teria dito:
Por que devo deitar-me embaixo de ti? Por que devo abrir-me sob teu corpo? Por que ser dominada por ti?
Contudo, eu também fui feita de pó e por isso sou tua igual.
Ele retrucou:
“Eu não vou me deitar abaixo de você, apenas por cima. Pois você está apta apenas para estar na posição inferior, enquanto eu sou um ser superior.
Lilith respondeu:
‘Nós somos iguais um ao outro, considerando que ambos fomos criados a partir da terra.
Alfabeto de Bem-Sira, entre 660 e 100 d.C., feito para Nabucodonosor
Rompidos os grilhões, as mulheres foram à luta e ganharam, na audácia e na competência, espaços até então exclusivos dos homens. A relação homem-mulher restou modificada. Só no futuro é que se poderá compreender e avaliar a repercussão disso tudo na sociedade. Por ora, o que se sabe é que tende a ser irreversível.
Não há como não admitir: a partir da trepidante década de sessenta do #século20, o mundo não foi mais o mesmo. A pílula, a simbólica queima de sutiãs, as posições decididas das feministas – #BettyFriedan e suas seguidoras à frente –, o fenômeno hippie (“Paz e Amor”), além de outros fatores de ordem social, política, econômica e religiosa, acabaram por estabelecer um marco histórico.
As universidades fervilhavam. Ali, campo fértil para a propagação de novas ideias, todas as questões eram discutidas abertamente. Sexo já não era tabu. As mulheres atingiram a maioridade e, na esteira de #Lilith, impunham aos homens tratamento igualitário. Assim, gradativamente, foram disputando e ganhando espaços. A porta larga do concurso público, indiscutível forma de aferição da meritocracia, permitiu a conquista de funções tidas como essencialmente masculinas. Pilotar aviões, comandar navios, dirigir empresas, ingressar nas forças armadas, no judiciário, na medicina, na engenharia, na polícia, são alguns exemplos de espaços ocupados.
As mulheres já não dependiam somente dos companheiros para garantir o sustento. Ao contrário, com os frutos do seu trabalho passaram a colaborar com as finanças da sociedade familiar e garantir melhores condições materiais. Sem qualquer dúvida, um grande avanço nas relações sociais.
Infelizmente uma parcela do universo masculino não conseguiu assimilar esses ganhos. Machistas e, algumas vezes misóginos, uns tantos se sentiram diminuídos. Alguns se afastaram, outros apelaram para a violência como forma de dominação. Não por acaso, multiplicaram-se, nas varas de família, os processos de separação. Cresceu a pressão pelo advento do divórcio, surgiram delegacias e varas especializadas. Na esteira, vieram campanhas em favor do aborto e pelo direito das mulheres decidirem sobre o próprio corpo.
Outra importante consequência dessa mudança de costumes ocorreu na área socioeconômica, no quesito ascensão social. De forma bem consistente e visível, a lei da capilaridade social saiu dos tomos de economia política e se fez realidade palpável. Não poucas famílias conseguiram mudar sua condição social graças ao trabalho das mulheres fora do ambiente doméstico.
Com o aumento de renda, foi possível a aquisição da sonhada casa própria, a mudança de local de moradia, o ingresso de filhos em colégios mais qualificados e a alteração do padrão de consumo das famílias. Mais importante ainda: depois de muitas e muitas gerações, viu-se, pela primeira vez, famílias podendo festejar o seu primeiro membro a ingressar na universidade.
Portanto, tudo era festa, motivo de celebração. Décadas e décadas de luta incessante, de vitórias e derrotas, começavam a apontar resultados positivos. Tanto no aspecto pessoal, quanto no social e no material.
Ensina a máxima latina que “de gustibus et coloribus non est disputandum” (de gosto e de colorido não se discute), mas o bom senso alerta: todo excesso é prejudicial. Foi o que se viu. A euforia pelas vitórias alcançadas trouxe consigo naturais exageros. Algumas cuidaram de desdenhar das que ficaram em casa, usando pejorativamente termos como “domésticas”, “donas de casa” ou “do lar”. Houve até quem dissesse: “de CCC (casa, criança e criados) não trato”.
Naquela hora – e não poderia ser diferente – não se cogitou do preço a ser pago pelas vitórias alcançadas. Na euforia das liberdades — e das libertinagens –, ninguém atentou para um pequeno, mas poderoso detalhe: com a mulher fora de casa, na faina diária, transportes, trabalho, horários, cansaço, quem se encarregaria de administrar a família?
No torvelinho das mudanças, parece que ninguém se deu conta de outras conseqüências sobre a sociedade familiar. Até aí, a família era dicotômica, com tarefas bem marcadas. Ao homem cabia manter a casa, era o provedor. O mais era de responsabilidade da mulher. A estrutura da “célula mater” repousava nela. Além de administrar a casa, cabia-lhe o encargo de educar os filhos, ditar regras e manter a harmonia.
A “dona de casa” era, de fato, a profissional mais completa que as sociedades humanas conheceram. Um misto de pediatra, psicóloga, pedagoga, financista, assistente social, nutricionista, administradora e mais outras especialidades. Conseguia ser competente em todas e brilhava na complexa tarefa de educadora, transmitindo valores, dando responsabilidade, desenvolvendo personalidades, e cuidando do que não se ensina nem se aprende na escola.
A questão agora é: como se organizam as famílias agora que as mulheres abdicaram dessa função para ir à luta? Os parceiros assumirão uma divisão de trabalho familiar mais equilibrada?
…a conversa continua…..
Alcir Santos é aposentado e leitor compulsivo. Coisa ele diz: “ex um bocado de coisa”, de office-boy, bancário, professor de História e Direito Civil e Prática Forente a juiz. Colunista da Revista Nova Família
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One thought on “As mulheres da geração do meio 2”
Tema mais relevante a cada dia! A ascenção feminina e a família, tem um desafio a superar. Conciliar e conciliar.