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Por: Redação
Em todo o mundo, a pandemia da Covid-19 representou um tsunami de mudanças que impactaram, significativamente, diferentes aspectos da vida. A reclusão social, a perda da rotina, o medo de ser acometido pela doença, o luto, as alterações nas relações de trabalho, com cargas horárias extensas e acúmulo de funções, dificuldades financeiras e de emprego. São todos alguns exemplos de motivos que têm levado ao esgotamento pessoal e profissional nesse período e que chamam a atenção para a necessidade dos cuidados em saúde mental a longo prazo.
A adoção de medidas de isolamento e protocolos de segurança sanitária afetaram não apenas as questões econômicas, mas também a saúde física, emocional e psicológica dos indivíduos.
Dadoscolhidos pela Universidade de São Paulo (USP) mostram que o Brasil tem liderado o ranking de países que apresentam mais casos de ansiedade e depressão na pandemia do novo coronavírus, com índices de 63% e 59%, respectivamente. Questões que já existiam se tornaram ainda mais visíveis e marcadas, especialmente em pessoas que experimentaram de fato a solidão, ausência da rede de apoio, como família e amigos, perda de empregos e luto. Nos ambientes de trabalho, alguns impactos que já aconteciam, como a “síndrome do impostor” (autossabotagem), passaram a se apresentar de maneiras diferentes, como o aumento dos casos de síndrome de burnout devido ao excesso de trabalho e falta de políticas de cuidados psicossociais efetivos.
É preciso ainda destacar a situação de pacientes infectados que sofreram enorme desgaste físico, emocional e psicológico em lidar com protocolos e sequelas da doença, e também de crianças e adolescentes que, em alguns casos, perderam seus pais e cuidadores, tiveram suas rotinas completamente alteradas, com aulas remotas, distância dos colegas e professores e a não convivência com amigos e familiares. Todos esses aspectos exercem enorme influência sobre a saúde mental, ou seja, sobre a qualidade de vida e bem-estar.
Ainda é cedo para diferenciar o que são reações “esperadas” frente ao estresse causado pela pandemia e o que pode ser considerado um transtorno, por isso devemos ter cautela em querer pular para diagnósticos precipitados. De toda forma, já falamos de uma “quarta onda de COVID”, com impactos principalmente na saúde mental, que resulta dos efeitos colaterais deste período de isolamento social, como o aumento de ansiedade e depressão, de transtornos obsessivos compulsivos e obesidade, entre outros.
Mesmo que a discussão sobre a importância da saúde mental tenha sido fortemente pavimentada no último ano, fatos como esses citados suscitam a necessidade de ampliar o olhar para o tema e construir diálogos entre sociedade civil, poder público e setor privado para institucionalizar o debate sobre saúde mental na era pós-pandemia.
As consequências trazidas pela pandemia mostraram que a negligência com a saúde mental vem de muitos anos e que precisamos ser proativos,se quisermos um futuro diferente .
Para lidarmos com as dificuldades e os desafios no campo da saúde mental, é necessário continuar os esforços em busca da construção de um sistema de atenção psicossocial mais efetivo e acessível, e também focado não somente no tratamento de transtornos, mas na promoção integral e prevenção da saúde psicológica.
A situação da saúde mental no Brasil precisa de melhorias que passem pela garantia do acesso a atendimento e tratamento de qualidade na rede pública, com investimento em estratégias e dispositivos que assegurem o direito à saúde mental, que é um direito humano.
Agir nesse cenário é uma responsabilidade que exige a articulação e compromisso mútuo de empresas, governos e sociedade civil.
Cabe a todos fomentar a saúde, segurança e qualidade de vida dos indivíduos pós-pandemia e das gerações futuras.
Um primeiro passo para edificar essas iniciativas fortalecer a conscientização individual e coletiva da sociedade é o levantamento
Caminhos em Saúde Mental , conduzido pelo Instituto Cactus, em parceria com o Instituto Veredas.
O relatório promove um apanhado sobre os principais consensos nacionais e internacionais em saúde mental, bem como um resgate histórico do tema no país. Por meio de um olhar segmentado, o material convida à construção de estratégias e políticas públicas de atuação em esforços conjuntos de governos, academia, setores de saúde e assistência, além da sociedade civil.
A publicação apresenta uma série de informações e caminhos de atuação no campo e vem de encontro com a narrativa que o Instituto propõe para o tema: atuar com saúde mental não é um projeto individual com começo, meio e fim, é um projeto coletivo para vida toda.
Precisamos da articulação permanente entre os indivíduos, comunidades e todos os setores sociais, atuando em coordenação e olhando atentamente para a prevenção de doenças e promoção da saúde mental no Brasil. Assim poderemos fazer deste debate tão importante durante a pandemia perdurar nos nossos lares, trabalhos e relações sociais no futuro e promover mais qualidade de vida para todas as pessoas.
Maria Fernanda Quartiero e Luciana Barrancos do Instituto Cactus, Organização sem fins lucrativos que promove iniciativas para ampliar a informação e os cuidados com a saúde mental, particularmente para adolescentes e mulheres.
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