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Você já parou para pensar que a única certeza é a morte? Vida pós-morte, ressurreição, reencarnação ou até mesmo o ‘morreu acabou’ não passam de possibilidades segundo determinadas vertentes de fé. O que sabemos é que nada se sabe sobre o que acontece depois. Tudo especulação. O fato é: a morte é uma certeza. Então, por que não vivermos ao máximo o agora, afinal, o que levamos desta vida?
Parece que nossa sociedade entendeu isso direitinho: tudo é prazer! Viva o prazer! Abandone-se ao prazer! Aproveite a vida ao máximo, viva sem limites e sem valores. Viva para além do bem e do mal. É o prazer pelo prazer.
O que resulta disso é que estamos perdendo outros referenciais de sentido e absolutizando o prazer como único sentido. O prazer pelas coisas materiais nos impede de nos importarmos com o outro. Vivemos o prazer imediato e não nos preocupamos com as próximas gerações, com sua existência e nem se terão algum prazer.
Nosso prazer inconsequente e descompromissado está ligado aos desejos. Se pudéssemos realizar tudo o que desejamos e imaginamos, quanto prazer obteríamos! Quanta satisfação! Seria o mundo de sonhos. Nossos desejos, em regra, nos conduzem para o imediato, para o aqui e agora, são o nosso eu mais imediato. Prazer de querer ter tudo o que é agradável deve explicar a fascinação que temos pela tela do computador, da televisão… Ficamos embebedados, perdemos horas e horas diante delas. O prazer nos revela o imediato, torna nos uma vivência imediata, nos deixa sermos nós mesmos, sermos prazer. O prazer apaga o tempo, o futuro, as preocupações e nos faz viver numa completude: a completude do prazer.
No prazer nos descobrimos, como existentes. O filósofo Descartes, com sua célebre frase “Penso, logo existo!”, não teria nenhum prazer ao ouvir a expressão vigente: “Vivo o prazer, logo existo!” O prazer se absolutiza e nos absolutiza! É uma experiência do absoluto, da completude, do bastarmos, da autossuficiência, do não querermos nada diferente do que estamos vivendo, de desejarmos eternamente o que estamos vivendo agora. É a experiência do eterno retorno: não querer nada diverso do prazer que estou vivendo.
Viver o aqui e agora é mesmo que o passado. Também é o mesmo que o futuro. Tempo se apaga. O prazer nos revela o imediato, nos revela nós a nós mesmos – e apaga o tempo, o futuro, as preocupações e nos faz viver numa completude: a completude do prazer. O absoluto se apaga, pois o prazer É o Absoluto. Será que essa busca pelo prazer não revela uma busca de sentido num mundo dominado pelo mercado, pelo dinheiro, pelos bens materiais, pelo prazer? Será que essa busca pelo prazer não revela uma busca de sentido que as grandes religiões e as grandes instituições, como Estado e família, já não conseguem satisfazer ou oferecer? Religiões acusam as pessoas de hedonistas, de quererem somente o prazer, e de trocarem as igrejas aos sábados e domingos pelo shopping, pelo jogo de futebol, pela televisão…
Mas será que não estão as pessoas buscando o absoluto a seu modo? Ora, o absoluto é Deus! Buscar o absoluto é próprio do ser humano seja qual for o nome que damos para esse absoluto. As pessoas buscam o absoluto. Por caminhos diferentes, mas buscam o absoluto. Muitas acreditam mesmo que esse absoluto é o prazer!
Contrapondo o filósofo grego Aristóteles, que dizia ser o homem um animal político por natureza, arrisco: não será o homem um animal místico por natureza? Qual o limite entre religião, prazer, sentido e mercado?
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