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Esse é um assunto que tem me chamado muita atenção nos últimos tempos, principalmente depois que fiz uma entrevista exclusiva com Ana Paula Padrão, em maio passado, e ela assumiu que durante muitos anos teve problemas com sua autoestima feminina. Como assim? A apresentadora admirada, jornalista reconhecida como exemplo de profissional, que já viajou o mundo inteiro em busca de notícias? Pois é.
Mais ainda: Pedi, na ocasião, para ela fazer uma comparação entre autoestima feminina e masculina e reproduzo aqui esse interessante trecho de nossa conversa: “Definitivamente, a autoestima feminina é mais baixa, mais frágil que a masculina, principalmente em países latinos. As meninas são criadas para encontrarem abrigo e segurança em algum lugar. São treinadas para serem servis e não para serem grandiosas, corajosas, desbravadoras. Já os meninos são criados para desenvolverem esse tipo de talento em si. Elas já saem em desvantagem”.
Sábia Ana Paula! Algumas de vocês meninas, já se deram conta que eles costumam se questionar menos sobre seu potencial? Parecem ter poucas incertezas. E, mesmo que as tenham, ainda assim, tendem a se aventurar, se jogar, explorar, ir mais além. Eles acreditam em si, que merecem o melhor, se dão valor. Quer melhor definição para a palavra autoestima? Já nós, mulheres, geralmente somos mais tímidas, medrosas, titubeamos.
Creio que entre as razões para esses comportamentos diferentes está a concepção, alimentada desde a infância, de que seres donos de falos são superiores aos que possuem vaginas, portanto, podem mais. E desde o berço. Querem exemplos? Ainda recém-nascidos, é muito comum os pais, cheios de orgulho, tirar suas fraldas e exibi-los aos amigos. É a celebração do pênis. E assim, claro, eles vão aprendendo a gostar de seus pintinhos desde cedo.
Os anos se passam e o garoto começa a explorar seu corpo. Se for visto manipulando o pênis, pode até levar uma bronca. Mas, no geral, entende-se que essa curiosidade é coisa da natureza masculina, sempre mais aventureira e costuma- -se deixar para lá. Sim, facilita muito o fato de que podem vê-lo e pegá-lo sem dificuldades. E “ele”, o pênis, se torna quase que uma entidade à parte, chamado também de espada, estaca e pau e outros nomes que têm a ver com firmeza e agressividade.
Já “elas” ganham apelidos que sugerem fragilidade como pombinha e passarinha. Ou, então, animais repulsivos: aranha, perereca e por aí vai. Meninas aprendem desde cedo que não podem se sentar de qualquer jeito em público. E aí se, de repente, a calcinha aparecer depois de um gesto mais espontâneo durante uma brincadeira! É preciso ter modos e recato! Ser flagrada colocando a mão lá porque também descobriu que pode ser legal, então… E assim elas crescem com a ideia de que aquela zona, que não pode ser vista direito sem o auxílio de um espelho, é secreta e intocável.
Dependendo da relação das mulheres da família com suas próprias genitálias e da educação sexual que tiveram, as meninas podem crescer, ainda, com a ideia de que menstruação é sinônimo de incômodo, que isso faz parte da infelicidade de ter nascido mulher. E, por ignorância com relação ao próprio corpo, acreditar que o absorvente interno pode se perder no organismo, indo parar sabe-se lá onde, entre outras ideias erradas.
Por isso, pergunto: qual foi a última vez que você pegou um espelho para ver sua vulva? Mês passado? Há três meses? Em 2013? Não se lembra? O que você sabe sobre sua região íntima? Conversa com seu ginecologista assuntos como masturbação e desejo? Aproveito para questionar sua relação com suas filhas: você conversa com elas sobre sexualidade? Se questiona sobre preconceitos que, sem querer, podem estar se perpetuando na cabeça delas? Presta atenção em frases que ajudam a reforçar a ideia de que é melhor ter pênis que vagina? Já pensou no que isso pode causar para as meninas no futuro? E na sua casa, os meninos também têm obrigações domésticas? Ou só elas devem limpar a casa enquanto o irmão pode ficar na frente da TV ou ir brincar com os colegas?
As mulheres, historicamente, sempre tiveram seu espaço restrito ao ambiente doméstico e educação voltada para se aprimorar em cuidar do marido e dos filhos. Mas todos – famílias, sociedades, países, a economia mundial – ganhariam muito com mulheres que fossem estimuladas desde cedo a acreditarem em si e desenvolverem seu potencial. Estudar, se aperfeiçoar, conquistar novos espaços, realizar projetos de vida faz bem a qualquer ser humano, independente do sexo ao qual pertença. Muita coisa já mudou, não discuto isso. Mas estamos longe ainda de uma sociedade que dá a homens e mulheres os mesmos direitos e oportunidades. E a gente pode ajudar a mudar essa situação dentro de nossos próprios lares, revendo conceitos, atitudes e a forma como criamos nossos filhos e filhas.
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