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Todos nós vivemos situações que nos despertam a vergonha, mas é importante identificar quando esse sentimento começa a atrapalhar a nossa vida – MICHELE VITOR
Falar em público, apresentar um projeto novo para o chefe, conversar com uma pessoa por quem se interessa, participar de um debate, falar em outro idioma, fazer uma pergunta no meio da aula. Para muita gente, essas ações podem ser bem difíceis de serem realizadas: a timidez atrapalha bastante nos momentos em que precisamos aparecer um pouco mais. Até aí, nada fora do normal. Um pouco de treino e de autoconfiança podem dar cabo da vergonha. O problema está na frequência e intensidade do sentimento: quando a timidez se torna excessiva e passa a impedir a pessoa de se relacionar e viver situações sociais e profissionais corriqueiras, prejudicando sua vida, é hora de avaliar com mais profundidade a questão.
Segundo Alexandre Bez, psicólogo e escritor, especialista em Relacionamentos e Ansiedade e Síndrome do Pânico, dificuldades em se relacionar normalmente estão ligadas a timidez ou traumas passados. “Timidez excessiva e um histórico sentimental frustrado normalmente desencadeiam o começo da dificuldade em se relacionar”, explica o especialista.
Segundo Bez, a timidez é um traço de caráter de cada indivíduo, sendo praticada pela manifestação de um comportamento muito particular. “Essa manifestação intrínseca se deve ao tipo de criação que a pessoa teve, e tanto adolescentes como adultos podem apresentar características da timidez”, explica. O especialista ainda afirma que “experiências desagradáveis com contexto negativo e modelos paternos e maternos refletem muito no comportamento da pessoa”.
QUAL É O LIMITE?
Para o psicólogo, a timidez quando não excessiva é normal, mas deve ser tratada com atenção a fim de que não se torne um problema. “Muitas vezes, sentimentos de inferioridade, tanto pessoal como familiar, podem contribuir para o surgimento do excesso de timidez e é aí que começam a interferir na rotina da pessoa”, ressalta Alexandre. E as consequências podem ser graves: o especialista aponta que timidez acima do normal e sentimento de frustração constante resultam em reclusão e isolamento.
“Pessoas com essas características possuem uma personalidade introvertida, voltada apenas para o próprio mundo. E, nesses casos, é muito comum se envolverem em relacionamentos nos quais não seja necessário se expor ou ser analisado, como os virtuais. Outro ponto que pode facilmente ser percebido é que muitas dessas pessoas não conseguem dar início a um relacionamento sério, fazendo com que todos romances que iniciam não durem. E o motivo é sempre o medo de se envolver e se machucar”, explica.
VENCENDO OS OBSTÁCULOS
O primeiro passo para quem acha que a vergonha e o medo de fracassar estão passando dos limites é procurar ajuda profissional especializada. “Esse é o ponto de partida para investigar as causas que levaram a esses transtornos”, explica Alexandre. A seguir, é importante optar por atitudes que começarão a ajudar no processo de melhoria e desenvolvimento. “Se permitir viver novas experiências é fundamental para a vida com qualidade, desde que a ação se já feita com segurança e responsabilidade”, diz o psicólogo, ressaltando que o paciente deve buscar conhecer novas pessoas, tentar se soltar mais e conversar sobre assuntos que despertam o próprio interesse.
Mudar a atitude é uma transformação necessária, que deve ser feita aos poucos, respeitando o tempo de cada um. “A pessoa tímida costuma passar muito tempo nas redes sociais, isso precisa ser combatido e revertido. Participar de atividades, como festas, reuniões e viagens, ajuda muito a tratar a timidez. Além disso, atividades físicas também refletem de forma positiva na desenvoltura psicológica”, explica Bez. Sobre a dificuldade de se envolver em novas relações amorosas por traumas passados, Alexandre diz que é essencial absorver a compreensão de que nenhum relacionamento é igual ao outro. “Devemos usar todas as experiências como aprendizado para a vida e não como barreira. É preciso se permitir viver”, conclui.
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