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Por: Adriana da Silva
Assim a professora e pesquisadora Janaína Freitas Calado resumiu os dias de apagão no Amapá.
Ela descreveu um pouco da difícil experiência de passar dias sem fornecimento de energia elétrica, com destaques para o descaso do estado e a solidariedade do povo amapaense.
A população do Amapá sofre com a falta de energia elétrica desde a noite de terça-feira, 03 de novembro.
Dos 16 municípios do estado, 13 ficaram sem energia. O Amapá tem cerca de 860 mil habitantes. De acordo com o ministério das Minas e Energia, o apagão atingiu 85% da população, o que corresponde a 730 mil pessoas.
Nos primeiros dias de apagão, a população amapaense sofreu não só com a falta de energia, mas também com a falta d’água, pela impossibilidade de utilizar bombas elétricas para o abastecimento.
Pessoas enfrentaram longas filas para comprar água. Houve registros de até 300% de aumento no preço da água mineral. Passagens áreas e fluviais também tiveram preços elevados, em resposta à demanda para deixar o estado.
Com sensação térmica em torno dos 40 graus, o calor afetou crianças, adultos e pessoas idosas – com maior risco de desidratação. Além da saúde, economicamente as perdas também foram grandes. Comerciantes e famílias perderam alimentos devido à falta de refrigeração. O total de perdas ainda não foi estimado.
O que já se sabe é que a crise energética afetou principalmente as pessoas mais pobres. Sob a escuridão, reluziu a desigualdade social amapaense.
Ainda que na capital Macapá fosse um problema, às vezes sem solução, conseguir combustíveis e sacar dinheiro, em algumas comunidades ribeirinhas o apagão se traduziu em total isolamento. Sem combustível, não há embarcações circulando e populações estão isoladas. Sem água e alimentos.
A fim de atender essas populações mais vulneráveis, organizações e movimentos sociais iniciaram ações de solidariedade. ONGs, coletivos e vizinhanças arrecadam recursos para levar água potável e mantimentos às famílias isoladas ao longo dos rios da região.
Amapaenses também se organizaram em protestos contra a falta de informação e de soluções por parte dos governos estadual e federal. No sábado, 07/11, foram registrados 20 pontos de protestos no estado.
No domingo, 08/11, a Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA) informou funcionamento do rodízio de energia, alternando 6 horas para cada região. Segundo a CEA, no domingo cerca de 65% da capacidade do sistema elétrico fora restabelecida.
Pressenza conversou com a pesquisadora e professora da Universidade Estadual do Amapá – UEAP, Janaína Freitas Calado. Doutora em Ecologia e mãe de uma menina e um menino, ela descreve como foram esses dias de crise no fornecimento de energia do estado.
“A gente não sabia absolutamente de nada”
Janaína conversou com a gente sobre a falta de informação nos primeiros dias de apagão, descreveu o que chamou de onda de solidariedade, além de lembrar que a ineficiência energética no Amapá não vem de hoje. É um problema crônico.
– Como foram esses seis dias sem energia, com falta d’água e de outros itens de primeira necessidade?
– Foi um caos. No início a gente achava que seria passageiro. E aí como a gente não tem informação. Não sabia se voltaria a energia, quando voltaria… Porque sem energia, a internet não funcionava e o sinal do celular pra acessar o 3G também não. Então, a gente não sabia absolutamente de nada. Essa angústia foi uma coisa muito difícil. Além do mais, se iniciou um processo de caos urbano do segundo pro terceiro dia.
As pessoas começaram a estocar gasolina. Quem tinha gerador, usava gerador. Quem tinha que sair de casa, precisava de gasolina pro carro. E só alguns postos tinham gerador para se manterem funcionando. Então, começou um caos por conta de gasolina. Começou um caos por conta de água, porque as pessoas começaram a estocar água mineral.
No terceiro dia acabou a água mineral praticamente em toda a cidade. A gente só tinha a água que tinha em casa. Como a companhia que abastece a cidade também precisa de energia, a gente estava sem água. Sem água nas torneiras. Sem ter como comprar água, porque a água tinha acabado.
“Escancarou de forma muito gritante a desigualdade social”
– Os hotéis da cidade ficaram lotados. Isso escancarou de forma muito gritante a desigualdade social em que a gente vive. Porque as pessoas ricas se refugiaram nos hotéis com geradores. Ou tinham geradores em casa. Ou tinham como comprar e estocar água. E a maioria da população ficou sem nada. Não tinha como comprar as coisas, porque tudo só comprava com dinheiro.
Na hora de sacar também, nem todos os bancos tinham geradores. Eram filas quilométricas pra gente conseguir gasolina e pra conseguir sacar dinheiro para comprar gasolina ou qualquer outra coisa.
A gente não tinha como guardar comida em casa porque estragava. Sem geladeira, sem nada a gente não tinha abastecimento de comida. A gente depende muito da geladeira.
– A temperatura está alta aí no Amapá?
– Altíssima! Um calor insuportável. Eu tenho dois filhos. Muita gente aqui com crianças. Pra eles dormiram bem, alguém tem que ficar abanando a noite inteira. E a gente sem conseguir dormir. Aqui na Amazônia vocês imaginam o quanto de inseto e mosquito que tem. É isso. Sai do calor, vai pra fora de casa pra ficar menos quente, aí é bombardeado por mosquitos. E dentro de casa fica imerso num calor insuportável.
– A situação já melhorou, né? Como está agora a situação de vocês no Amapá?
– Agora a gente está como a permanência do escancaramento da desigualdade social. Basicamente é isso. A energia voltou pra a maioria da população. Mas ainda está em rodízio. A gente recebeu pelas redes sociais uma tabela da companhia de energia, que mostra os bairros que ficam seis horas com energia e seis horas sem e como está sendo intercalado. Então, de uma maneira geral, a gente se programa. Porque tem informação. Então, tenho seis horas de água, vou armazenar água, vou organizar a energia. Sei a hora que vou poder dormir mais tranquila. Sei a hora que vou poder acordar.
Contudo, bairros periféricos não têm nada. Tem a energia que continua indo e vindo, mas eles não tem nada. Eles não tem acesso nem a água.
“Não enxerguei essa tendência de privilegiar”
– Você acha que há risco de certas regiões serem privilegiadas, durante o rodízio, pela Companhia de Energia do Amapá?
– Pelo que eu vi na tabela, não consegui enxergar esse padrão, não. Porque eles foram pelo número de pessoas que moram na região. As regiões mais populosas ficaram nessas seis horas de uma forma mais intensiva. Regiões menos populosas ficaram um pouco menos. E os municípios, de maneira geral, também estão em rodízio de seis em seis horas. Eu não enxerguei essa tendência de privilegiar, nesse sentido.
Mas eu enxergo que uma pessoa que não tem condições de comprar água mineral e se água mineral aumentou muito o preço, aliás não tem disponível… ou uma pessoa que não tem acesso a uma água minimamente potável, para pelo menos colocar hipoclorito de sódio, que é uma coisa comum aqui as pessoas tratarem a água com hipoclorito para beberem. Mas não tem nem essa água clara. A água que está vindo pra elas é água do rio, água barrenta pra elas beberem. Aí, sim, eu consigo ver de uma forma muito nítida, sabe? Porque aí, quem tem um pouco mais de acesso, um pouco mais de dinheiro, consegue mais recursos.
Amapaenses também se organizaram em protestos contra a falta de informação e de soluções por parte dos governos estadual e federal. No sábado, 07/11, foram registrados 20 pontos de protestos no estado.
No domingo, 08/11, a Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA) informou funcionamento do rodízio de energia, alternando 6 horas para cada região. Segundo a CEA, no domingo cerca de 65% da capacidade do sistema elétrico fora restabelecida.
Pressenza conversou com a pesquisadora e professora da Universidade Estadual do Amapá – UEAP, Janaína Freitas Calado. Doutora em Ecologia e mãe de uma menina e um menino, ela descreve como foram esses dias de crise no fornecimento de energia do estado.
“A gente não sabia absolutamente de nada”
Janaína conversou com a gente sobre a falta de informação nos primeiros dias de apagão, descreveu o que chamou de onda de solidariedade, além de lembrar que a ineficiência energética no Amapá não vem de hoje. É um problema crônico.
– Como foram esses seis dias sem energia, com falta d’água e de outros itens de primeira necessidade?
– Foi um caos. No início a gente achava que seria passageiro. E aí como a gente não tem informação. Não sabia se voltaria a energia, quando voltaria… Porque sem energia, a internet não funcionava e o sinal do celular pra acessar o 3G também não. Então, a gente não sabia absolutamente de nada. Essa angústia foi uma coisa muito difícil. Além do mais, se iniciou um processo de caos urbano do segundo pro terceiro dia.
As pessoas começaram a estocar gasolina. Quem tinha gerador, usava gerador. Quem tinha que sair de casa, precisava de gasolina pro carro. E só alguns postos tinham gerador para se manterem funcionando. Então, começou um caos por conta de gasolina. Começou um caos por conta de água, porque as pessoas começaram a estocar água mineral.
No terceiro dia acabou a água mineral praticamente em toda a cidade. A gente só tinha a água que tinha em casa. Como a companhia que abastece a cidade também precisa de energia, a gente estava sem água. Sem água nas torneiras. Sem ter como comprar água, porque a água tinha acabado.
“Escancarou de forma muito gritante a desigualdade social”
– Os hotéis da cidade ficaram lotados. Isso escancarou de forma muito gritante a desigualdade social em que a gente vive. Porque as pessoas ricas se refugiaram nos hotéis com geradores. Ou tinham geradores em casa. Ou tinham como comprar e estocar água. E a maioria da população ficou sem nada. Não tinha como comprar as coisas, porque tudo só comprava com dinheiro.
Na hora de sacar também, nem todos os bancos tinham geradores. Eram filas quilométricas pra gente conseguir gasolina e pra conseguir sacar dinheiro para comprar gasolina ou qualquer outra coisa.
A gente não tinha como guardar comida em casa porque estragava. Sem geladeira, sem nada a gente não tinha abastecimento de comida. A gente depende muito da geladeira.
– A temperatura está alta aí no Amapá?
– Altíssima! Um calor insuportável. Eu tenho dois filhos. Muita gente aqui com crianças. Pra eles dormiram bem, alguém tem que ficar abanando a noite inteira. E a gente sem conseguir dormir. Aqui na Amazônia vocês imaginam o quanto de inseto e mosquito que tem. É isso. Sai do calor, vai pra fora de casa pra ficar menos quente, aí é bombardeado por mosquitos. E dentro de casa fica imerso num calor insuportável.
– A situação já melhorou, né? Como está agora a situação de vocês no Amapá?
– Agora a gente está como a permanência do escancaramento da desigualdade social. Basicamente é isso. A energia voltou pra a maioria da população. Mas ainda está em rodízio. A gente recebeu pelas redes sociais uma tabela da companhia de energia, que mostra os bairros que ficam seis horas com energia e seis horas sem e como está sendo intercalado. Então, de uma maneira geral, a gente se programa. Porque tem informação. Então, tenho seis horas de água, vou armazenar água, vou organizar a energia. Sei a hora que vou poder dormir mais tranquila. Sei a hora que vou poder acordar.
Contudo, bairros periféricos não têm nada. Tem a energia que continua indo e vindo, mas eles não tem nada. Eles não tem acesso nem a água.
“Não enxerguei essa tendência de privilegiar”
– Você acha que há risco de certas regiões serem privilegiadas, durante o rodízio, pela Companhia de Energia do Amapá?
– Pelo que eu vi na tabela, não consegui enxergar esse padrão, não. Porque eles foram pelo número de pessoas que moram na região. As regiões mais populosas ficaram nessas seis horas de uma forma mais intensiva. Regiões menos populosas ficaram um pouco menos. E os municípios, de maneira geral, também estão em rodízio de seis em seis horas. Eu não enxerguei essa tendência de privilegiar, nesse sentido.
Mas eu enxergo que uma pessoa que não tem condições de comprar água mineral e se água mineral aumentou muito o preço, aliás não tem disponível… ou uma pessoa que não tem acesso a uma água minimamente potável, para pelo menos colocar hipoclorito de sódio, que é uma coisa comum aqui as pessoas tratarem a água com hipoclorito para beberem. Mas não tem nem essa água clara. A água que está vindo pra elas é água do rio, água barrenta pra elas beberem. Aí, sim, eu consigo ver de uma forma muito nítida, sabe? Porque aí, quem tem um pouco mais de acesso, um pouco mais de dinheiro, consegue mais recursos.
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