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As lições dos teimosos

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Envelhecer em uma nação de terceiro mundo não é uma experiência fácil, muito menos confortável

Por Antônio Carlos Aquino de Oliveira

Atitudes de cuidado com crianças e idosos, muito longe de serem sacrifício, são prazerosas e gratificantes lições de vida, explícito exercício de amor e generosidade. Trata-se de um aprendizado imperdível que a vida permite aos que têm família e dela sabem cuidar.

As crianças são formidáveis professoras de simplicidade e simplificação, de sinceridade e honestidade, de leveza. Educar uma criança, no sentido verdadeiro da palavra, talvez seja a maior missão delegada a um ser humano. Crianças são cristais extremamente frágeis que de todas as formas precisam ser cuidadas e preservadas sem a superproteção que as isola, adoece e tira a noção de realidade do mundo.

Cabe aos pais e educadores a responsabilidade de quem deve ensinar valores elevados, promover conhecimento e informação que as leve na direção da liberdade, da independência responsável, com a disciplina que estabelece os claros limites de direitos e deveres, humanidade e civilidade. Educação qualificada de crianças e jovens é o melhor investimento que pais e mães, a família e o País podem fazer.

Já, quando tratamos de cuidados aos mais velhos, aos idosos, avançamos para terrenos mais delicados, embora eu goste muito de comparar as fases: das fraldas viemos, às fraldas voltaremos! Cuidar dos nossos velhos, daqueles que cuidaram de nós por tanto tempo, é mais que um ato de gratidão, é a mais perfeita forma de agradecer a Deus pelo dom da vida.

Envelhecer em uma nação de terceiro mundo não é uma experiência fácil, muito menos confortável. Embora não se possa e não se deva generalizar em um tema tão delicado e sensível, este nosso país está cada vez mais perverso e cruel com suas crianças e com aqueles que muito deram de si, agora nominados velhos, idosos, turma da melhor idade. Seja o que for, para lidar com crianças e idosos de forma saudável e amorosa é preciso ter coração, alma, ser gente.

Envelhecer é um privilégio, com saúde, uma dádiva. Assim como as crianças, os velhos educados, divertidos, bem humorados, com bons hábitos, simples, agradáveis, acessíveis e afetivos são os mais desejados, queridos, considerados “fáceis de lidar”. Nada mais legal e gostoso que estar ao lado de um ou vários velhos gozadores, brincalhões, contadores de histórias. Mas, voltando ao título deste artigo, os “teimosos” não são fáceis.

Existe a “teima” com origem nas questões de saúde física ou mental, compreensível e explicável. Mas existe a teimosia de raiz, de origem, aquela que decorre da educação de cada um, do jeito que cada um aprendeu e levou a vida. Lidar com nossos velhos teimosos é uma grande lição onde testamos todos os nossos limites de paciência, tolerância e amor. É preciso ter muito cuidado para cuidar sem invadir, respeitar limites. Eis um assunto complexo!

É preciso saber envelhecer, em todas as fases da vida, livrar-se dos maus hábitos, das práticas desagregadoras que no futuro irão cobrar preços altos é mais que desejável, é necessário. Gostar de ler, escrever, ouvir música, conversar, jogar – sem vícios -, praticar exercícios, fazer artes, contar histórias, viajar, andar, cuidar de plantas e bichos, cuidar de gente que quer e merece ser cuidada são bons hábitos para todos, sempre.

Vivemos tempos sombrios e estranhos em que a ignorância se confunde com teimosia, escudo para os radicais, uma venda nos olhos dos que supõem enxergar. Esse tipo de doente, de todas as idades e em todas as fases da vida, não permite o contraditório, não é afeito ao diálogo, é arrogante e autoritário.

Quando se envelhece com essas características e posturas o desafio de cuidar dos idosos torna-se mais que um exercício de paciência ou gestos de amor. Observamos com tristeza e preocupação a existência de pessoas radicais e fanáticas dividindo as famílias, e isso está comprometendo como nunca a saúde coletiva de uma das mais importantes células da sociedade.

Sejam os idosos teimosos ou flexíveis, bem ou mal humorados, são todos eles grandes mestres. Com eles podemos aprender como devemos ser para viver a última fase de nossas existências com relativa e conveniente paz. Na fase inicial de nossas vidas teremos lições e aprendizados que nos acompanharão por toda a vida, daí a importância de pais e mães verdadeiramente educadores e cuidadores, de famílias sadias, de uma sociedade civilizada, para que saibamos envelhecer bem longe das lições dos teimosos.

Antônio Carlos Aquino de Oliveira é administrador, especializado em marketing estratégico. Palestrante e consultor dos setores público e privado, é autor de dois livros e colunista da Revista Nova Família

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One thought on “As lições dos teimosos

  • Lêda Oliveira -

    Aquino brilhante e a mais sensata reflexão
    e pura realidade do nosso momento atual.
    Obrigada !!!

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