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Chapada Diamantina

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Um mergulho na natureza, na história e na cultura de um povo

Por Beatriz Herkenhoff

Em 2011, meu filho Stefano conheceu o #Capão. Uma pequena vila situada no #ParqueNacionaldaChapadaDiamantina, BA. Pretendia permanecer apenas uma semana, mas ficou apaixonado pelo lugar e só foi embora dois meses depois. Desde então, voltou inúmeras vezes e sempre dizia:

“Mãe, a Chapada Diamantina tem tudo a ver com você, não espere muito tempo para conhecer.”

Segundo maior #ParqueNacional do Brasil, a Chapada é uma unidade de conservação que ocupa 152 mil hectares. Com centenas de quedas d’água, nascentes, cachoeiras exuberantes, sítios arqueológicos, grutas com formações raras, poços com águas cristalinas, cumes, cânions e trilhas belíssimas. Apresenta diversidade na espécie vegetal e animal, fonte de estudos e pesquisas.

Desde o século XVIII e XIX, com a descoberta do ouro e diamantes, a mineração e o garimpo foram os motores econômicos da Chapada Diamantina. Para lá se deslocaram aventureiros, garimpeiros e milhares de escravizados, mão de obra principal da exploração das riquezas naturais.

Em 1973 foi criado o Parque Nacional da Chapada Diamantina e a cidade de #Lençóis foi tombada pelo #IPHAN (Instituto do Patrimônio Artístico Nacional) como Patrimônio Nacional. Somente em 1996, a mineração foi proibida pela União e pelo Estado da Bahia. A partir de então foi desenvolvido o ecoturismo e o turismo de aventura.

Só tive acesso a essas informações em 2016, quando eu e minha amiga Delza decidimos aceitar o desafio e passar 10 dias na Chapada Diamantina. Durante três meses, além do pilates, fizemos exercícios de fortalecimento global, treino de equilíbrio, propriocepção e caminhadas diárias. Sabíamos que as trilhas não seriam fáceis.

Stefano fez um roteiro considerado de esforço leve (na ocasião eu estava com 61 anos e Delza com 68 anos) e indicou o guia Carlinhos, dono da Pousada Sossego, em Lençóis. Vivemos dias intensos, caminhando em trilhas, nadando, subindo e descendo morros, equilibrando em pedras, superando obstáculos. Ficamos envolvidas com a beleza e originalidade dos lagos, rios, cachoeiras, grutas, poços e mirantes. Além das riquezas naturais, a Chapada tem um povo acolhedor e hospitaleiro.

Conhecemos um dos lugares mais lindos do mundo. Descobrimos um oásis em pleno sertão nordestino. O silêncio da natureza me virou do avesso. O confronto entre sua imensidão e minha pequenez gerou muitos questionamentos.

Delza teve sentimentos semelhantes. À noite, mortas de cansaço, tínhamos força para explorar a cidade histórica de Lençóis, com seus casarões e restaurantes.   Enquanto desfrutávamos a gastronomia local, conversávamos sobre o dia e seu significado em nossas vidas.

Eu ouso afirmar que ninguém volta o mesmo depois de ficar um tempo naquele paraíso. As águas nos lavam e libertam dos apegos e das coisas negativas. Voltamos recarregadas de amor.

Ter Carlinhos como guia foi um presente extraordinário. Ele é nativo e tem um conhecimento profundo da região. O amor pela Chapada motivou seu engajamento em vários grupos sociais (escotismo, educação ambiental, entre outros). Esses grupos têm como objetivo despertar a consciência ecológica nos moradores, resgatar a memória afetiva, o compromisso com a preservação do parque e a prevenção de incêndios.

Carlinhos não tem pressa, durante as trilhas, vai parando para nos mostrar as ervas medicinais. Vai contando histórias lindas de sua tataravó, índia, da etnia Maracá Cariri. Ela aprendeu desde cedo a cura através das plantas e transmitiu seus conhecimentos ancestrais para seus descendentes. Seguindo a tradição, Carlinhos também compartilha o segredo das plantas com seus filhos, sua comunidade e com os turistas. Legados transmitidos de geração em geração.

Seu tataravô veio de Angola. Era negro e imediatamente apaixonou por sua tataravó. Quando casaram, uniram seus conhecimentos, experiências, sabedoria, força, fé e garra para sobreviver a tantas adversidades, principalmente ao trabalho duro no garimpo.

Começamos nossa aventura no #ParqueMunicipaldaMuritiba, localizado nos arredores de #Lençóis. Conhecemos as quedas d’águas do rio Lençóis, relaxamos nos caldeirões de água (Serrano).  Percorremos o Parque, passando pelo Salão de Areias coloridas, Poço Halley e tomamos banho nas águas cristalinas da Cachoeirinha.

Diante de tanta perfeição, fomos nos distanciando da civilização, dos barulhos do mundo, da correria do dia a dia. O corpo e a mente relaxaram plenamente.

O segundo dia também foi repleto de surpresas. Mergulhamos na Cachoeira do Poço do Diabo. Fizemos a travessia na Gruta da Lapa Doce com formação de calcário, estalactite e estalagmite. Ficamos deslumbradas com as águas azuis cristalinas de Pratinha e da Gruta Azul. Encerramos o dia no morro do Pai Inácio, com uma vista panorâmica belíssima e um pôr do sol incrível.

Carlinhos foi mostrando as grunas onde os garimpeiros passavam o dia trabalhando. Relata que ser garimpeiro era difícil, uma vida de muito trabalho e pouca remuneração:

“Meus pais tiveram 12 filhos. Fomos criados através do garimpo. Com oito anos eu já ajudava.”

Quando fizemos a trilha para Ribeirão de Cima, Carlinhos nos apresentou amigos quilombolas, com quem tivemos trocas muito interessantes. Também conhecemos antigos garimpeiros. Muitos viraram guia quando o garimpo foi proibido.

Ao final de cada dia todo nosso corpo doía, tínhamos a sensação de que não conseguiríamos levantar da cama no dia seguinte. Mas, Ivana, esposa do Carlinhos, nos esperava com um café da manhã completo, preparado especialmente para restaurar a energia e fortalecer o corpo. Com muitas proteínas e carboidratos: ovos, queijo, leite, aipim, inhame, batata doce, tapioca, cuscuz, frutas, entre outras gostosuras que faziam com que todo o cansaço desaparecesse.

Nosso próximo destino foi #Igatu, Cidade linda, que chegou a ter mais de 10.000 residentes. Impressionante as ruínas de casas de pedras que integram um Conjunto Arquitetônico, Urbanístico e Paisagístico tombado pelo IPHAN. Muitas histórias latentes do período da escravidão e do garimpo.

Visitamos uma gruna com pequenos bonecos feitos com argila, cada um contendo o nome dos negros escravizados que trabalhavam nesse garimpo. Como os mesmos não eram registrados em cartório, esse trabalho histórico-artístico foi resultado de uma extensa pesquisa de seus descendentes. Muito emocionante!

Antes de chegar em Igatu, paramos para conhecer o Poço Encantado, com 60m de profundidade de água azul cristal. Um reflexo da luz solar ilumina o local como um feixe de luz. Divinamente maravilhoso.

Próximo dali, o Poço Azul, situado numa imensa gruta. Foi uma das experiências mais inusitadas. Fizemos flutuação nas águas, de uma transparência impressionante. A sensação de que estávamos voando no universo ou no mais profundo do oceano.

Impactante. Inesquecível. Indescritível o que sentimos. Esqueci de dizer, que além de um excelente guia e contador de histórias, Carlinhos é um exímio fotógrafo, registrou cada momento nosso na Chapada.

No dia seguinte conhecemos a cachoeira do Buracão com 85m de altura, cercada por cânions. Sem palavras! As águas da cachoeira caem com uma força assustadora.  Tivemos que ser amarradas numa boia e o guia local nos puxou para chegarmos debaixo da cachoeira, caso contrário, seríamos arrastadas pela força das águas. Delza afirma que se sentiu integrada à natureza e que a experiência de nadar em Buracão foi a mais emocionante de todas.

No #Capão nos despedimos de Carlinhos e continuamos com outro guia, também experiente e nativo. Capão é uma vila deliciosa, aconchegante e acolhedora.

Muitos jovens que buscam uma vida alternativa, de paz e harmonia mudam para lá. Por isso tem muitos grupos musicais, atividades circenses, forró e apresentações diversas à noite. Tem também profissionais especializados em terapias de cura, Thetahealing,  medicina holística, massoterapia e fitoterapia. Deliciosos pratos típicos, como o pastel de palmito de jaca, a moqueca de jaca, a pizza integral, entre outros.

No Capão, continuamos as trilhas diárias. Conhecemos Cachoeira do Riachinho, Conceição dos Gatos, Purificação, Angélica, Rio Preto. Tudo deslumbrante.

Na véspera da última trilha liguei para Stefano e disse:

“Meu filho, vou desistir, o cansaço é grande, já estou feliz com tudo que conheci.” Ele respondeu: “Você vai deixar de fazer a trilha de Rio Preto? É uma das mais bonitas! Quando você começar a caminhar o corpo vai esquentar e tudo vai passar.”

E foi isso que aconteceu, a energia voltou com força. Ainda bem que não desanimei, o lugar é fantástico. E, na volta vimos o pôr do sol em Rodas. Tudo lindo. Fechamos a experiência na Chapada com chave de ouro.

Se essa crônica fosse escrita por um jovem, ele iria descrever outros lugares famosos da região, mas, cujas trilhas são mais pesadas, como:  a Cachoeira da Fumaçinha (12 km ida e volta), Cachoeira do Michila, Cachoeira do Sossego (14 km). Vale do Pati (trilha de três dias). Carlinhos afirma:

“A Cachoeira da Fumaça por baixo é um verdadeiro Santuário. Uma das trilhas mais puxadas, desejada e temida.”  

Sonho em voltar a Chapada Diamantina. E você? Ficou motivado com essa aventura?

Não deixe para amanhã. Viva o hoje com plenitude e gratidão.

Imagem: Arquivo pessoal

Beatriz Herkenhoff é  doutora em serviço social pela PUC São Paulo. Professora aposentada da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo). Autora do livro Por um Triz – Crônicas sobre a vida em tempos de pandemia.

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10 thoughts on “Chapada Diamantina

  • Que aula, heim? Geografia, história, ecologia. As fotos são uma história a parte, são espetacular.
    Aplausos para a “Nova Família” por nos proporcionar matérias assim.

    • Ana Luzia Bottécchia -

      Maravilhoso passeio! Ainda mais encantador sendo contado pelas letras da Beatriz. Fiquei com vontade de conhecer estes encantos o quanto antes.

  • Beatriz Herkenhoff -

    Gratidão Alcir por seu feedback rico e estimulante, que muitos se sintam motivados a conhecer a Chapada, Beatriz

  • Que Saudade da Chapada. Essa descrição completa me vez viajar de volta ao local que escolhi pra chamar de lar. Obrigado!!! S2

  • Teresinha Moreira Barros -

    Minha querida Beatriz, atendendo a um desejo antigo e estimulada por um dos seus relatos dessa viagem, fiz contato com você, que me passou o contato do Carlinhos. Em 2017, com uma amiga, Rosini, que conheces bem, seguimos em uma aventura maravilhosa pelac Chapada Diamantina sob os cuidados de Carlinhos e sua família. Paixão total. Em 2018, voltei com minha filha e meu neto de 9 anos e fizemos a incrível trilha do Vale do Paty. Em 2023, voltarei…realmente a Chapada Diamantina é um Divisor de Águas na vida de quem tem a oportunidade de estar lá. Confesso que o meu coração é Chapadeiro!Linda crônica! Emocionante. Parabéns minha mestra.

  • Beatriz Herkenhoff -

    Gratidão Ana Luzia por suas palavras. Anime para ir com toda família para a Chapada Diamantina. Veja abaixo o comentário da Teresinha Barros que já foi duas vezes. Sempre com o guia Carlinhos.

  • Beatriz Herkenhoff -

    Que lindo Felipe Maia quando você diz que a Chapada Diamantina é o local que escolheu para chamar de lar. A Chapada entra em nossas entranhas e não sai nunca mais, obrigada por sua partilha, beijos Beatriz

  • Beatriz Herkenhoff -

    Fiquei emocionada com sua partilha Teresinha. Feliz por ter sido canal para essas experiências fantásticas na Chapada Diamantina sob os cuidados do guia Carlinhos. Lindo quando você diz que o seu coração é chapadeiro.. Que mais gente se sinta motivada a seguir essa trilha que nós transforma, gratidão, Beatriz

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