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Clarindo Silva

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Doutor Honoris Causa pela Universidade Livre da França, um baiano tão comum com os mais legítimos dos baianos, singular e plural, comerciante, político, poeta, contador de causos, defensor de causas

Por Antônio Carlos Aquino de Oliveira

Na década de 1970 eu morava no bairro de #Nazaré, em #Salvador. Todas as terças e quintas eu ia para as aulas de Capoeira com Mestre Vermelho, na Academia de Mestre Bimba. Depois das aulas tornou-se hábito e costume comer Angú Encubado na Cantina da Lua, no Terreiro de Jesus.

Era um prato único. Um prato fundo feito. Era um pirão duro de feijão com carne de sol cortada pequena e frita por baixo. Parecia um bolo de chocolate achatado. Uma delícia.

Clarindo interrompia o som ambiente de Samba da Bahia para, com sua voz rouca, recitar pensamentos.

Durante anos a #CantinadaLua foi um ponto de encontro da minha turma. Sempre com cervejas, batidas e Angú Encubado. Eu ia e voltava andando pelos becos e vielas, sem medo. Era um paleteiro dos bons, um magrelo ousado.

Nesse fevereiro de 1922, revi Clarindo, com seus 79 anos, igual ao que sempre foi, simpático, gentil, voz mansa e elegante. Uma figura, um Doutor Honoris Causa pela #UniversidadeLivredaFrança, um baiano tão comum com os mais legítimos dos baianos, singular e plural, comerciante, político, poeta, contador de causos, defensor de causas.

O Centro Histórico, o #Pelourinho, o Maciel de Baixo e de Cima, o Santo Antônio Além do Carmo, a Baixa dos Sapateiros, a Barroquinha. Ali existia autêntica vida baiana e baianidade, putas e puteiros, restaurantes, bares e botecos, tabuleiros de acarajé e mingau, alfaiates e sapateiros, samba de roda, maculêlê e capoeira, malandros e malandragens, funcionário e repartições públicas, políticos sérios e vagabundos da política, poetas e cantadores.

Tinha de tudo um pouco e muito de tudo, mas o bom mesmo era a gente se sentir em casa, no meio da nossa gente, sem medo ficávamos bêbados ou não.

As mulheres simples e lindas, cheirosas e formosas não temiam assédios, piadas ou assobios, sabiam se impor e manter distância do que não lhes convinham. Havia fartura de homem para todas as mulheres, as da terra e as chegadas, havia amor transbordando e tensão sobrando.

Pois é… nós éramos uma gente porreta, um povo retado de hospitaleiro.

Saudade não cabe, lembranças sim, histórias muitas.

Foto: Arquivo Pessoal

Antônio Carlos Aquino de Oliveira é administrador, especializado em marketing estratégico. Palestrante e consultor dos setores público e privado, é autor de dois livros e colunista da Revista Nova Família

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