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Semeando colheitas
Por Antônio Carlos Aquino de Oliveira
O simples é tão óbvio que chega a ser desmoralizante; é tão claro que ofende e desafia às mentes complexas e complicadas. Para simplificar é preciso sabedoria e inteligência, o que para muitos pode parecer insensibilidade, pragmatismo ou excesso de racionalidade, mas não é.
Os tempos atuais de isolamento e afastamento têm tido efeitos colaterais muito positivos, amargos e doces. As relações frágeis estão se desfazendo, as fortes estão se ajustando, se consolidando ainda mais. Muita coisa ruim tem acabado e muita coisa boa tem melhorado. O lixo, muitas vezes negligenciado e esquecido, passou a incomodar. Uns o removem, outros o mantêm. São escolhas.
Todos os que não assumem os custos e as consequências de suas escolhas, atos e atitudes, estão condenados a ser objetos da vida e de outras pessoas, eternas vítimas de si mesmos, pobres coitados excluídos do mundo que construíram. Sentir pena de não inocentes não é um sentimento cristão, muito menos civilizado e educativo.
Com os cada vez mais raros – mas, muito mais qualificados – amigos, temos conversado muito sobre relações entre pessoas, seja nos campos profissional, político, religioso e esportivo, até os assuntos mais complexos, como relação entre pais e filhos, marido e mulher, família, sociedade. Temas complicados, onde a parte inteligente da simplicidade quase nunca tem espaço. A grande maioria prefere opinar sobre a vida das outras pessoas como forma de evitar pensar em suas próprias vidas. Os problemas alheios são muito confortáveis, pois não precisamos nos preocupar com suas soluções.
Não sei se algum filósofo já abordou essa questão, mas creio que aconteceria uma imensa mudança na qualidade de vida do mundo se as pessoas focassem sua atenção na busca de solução para seus problemas, na realização dos seus projetos e sonhos, na inadiável tarefa de se aceitar, de se assumir e ser quem são. Talvez isso até ajudasse a melhorar também a qualidade das religiões, das ideologias, das diversas formas de relações que geram dependências, desculpas e fugas.
Na constatação de que a caminhada só se faz no passo a passo, as relações também são construídas no dia a dia, em cada gesto e atitude, nos cuidados. São recíprocas permissões. Quando os limites não são estabelecidos e controlados, os riscos crescem. Limites exagerados tornam-se barreiras, muitas delas estabelecidas de forma consciente e responsável, outras intransponíveis. A inexistência de limites, entretanto, levam as relações para as perigosas águas do vale-tudo, do tudo pode, tudo é permitido. Tudo tem e terá consequências, sempre. Inaceitável é não se assumir os custos do que se faz com consciência e conhecimento. Um imenso desperdício de oportunidade.
Sempre tive e mantenho uma imensa dificuldade em entender como e porque as pessoas, com tanta facilidade e irresponsabilidade, colocam em risco as suas vidas, sua liberdade e independência. Existem bens mais preciosos?
Da mesma forma que não entendo essa livre escolha das pessoas, mais indignado fico quando elas não querem pagar os custos dos seus erros e aprender com eles. Nesse contexto paranoico e doentio residem as bases da impunidade, do paternalismo, terríveis traços da cultura brasileira que se entranhou na república, nas instituições, nas famílias e nas relações de uma forma inimaginavelmente devastadora.
Todos os dias alguém paga suas contas e honra seu nome, aprende com seus erros e muda, cresce. Gente que cria, educa e forma gente, cuidam da sua saúde física, mental, espiritual, financeira e existencial. Todos os dias alguém deixa de pagar o que deve e com seu comportamento irresponsável desonra seu nome, não aprende nada com seus estúpidos erros e ainda culpa os outros pelas insanidades que comete.
O resultado final dessas duas formas de comportamento é assumido por toda a sociedade e pelo planeta por igual, para o bem ou para o mal. Não existirá paz duradoura ou consistente enquanto existirem pessoas, famílias e povos em crise e em guerra.
Assim sempre foi. Assim sempre será?
Que cada um de nós, com responsabilidade e seriedade, com inteligência e sabedoria saiba construir saudáveis relações, com a consciência de que a colheita de nossas semeaduras e plantios serão obrigatórias.
Paz e Luz nas relações!
Antônio Carlos Aquino de Oliveira é administrador, especializado em marketing estratégico. Palestrante e consultor dos setores público e privado, é autor de dois livros e colunista da Revista Nova Família
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One thought on “Construindo relações”
Texto primoroso, atual e inspirador para a busca de novos e úteis comportamentos sociais.
Vale ler e guardar.