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Gentileza é questão de Educação

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As boas maneiras, delicadeza e atenção para com outro, além de garantirem o bom convívio em sociedade, deixam claro o grau de educação de um povo.

Segurar a porta aberta para alguém, dar passagem a outros veículos no trânsito, ceder lugar aos idosos ou gestantes em transportes públicos. Estas são algumas regras básicas de convivência em grupo, das quais todos gostam, mas que estão desaparecendo rapidamente das nossas vidas.

Para especialistas, o sumiço paulatino dos gestos gentis para com o próximo transforma as relações humanas em contatos frios, hostis e, por vezes, agressivos.

“A gentileza é a prática de bom convívio social, portanto, sem gentileza as relações se deterioram e os conflitos se multiplicam, podendo mesmo chegar a processos violentos. É preciso que se entenda que a prática da gentileza, além de educação, é uma forma de organização da sociedade”, adverte Suely Buriasco, Mediadora de Conflitos, Educadora e Escritora.

A carência dessa virtude preocupa psicólogos e educadores há tempos: em 1996, a gentileza ganhou um dia mundial, instituído em Tokyo, no Japão, comemorado sempre em 13 de novembro.

Aqui no Brasil, o movimento pela gentileza é representado, desde então, pela Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV).

“O objetivo da ABQV é motivar e inspirar as pessoas para que elas possam transformar nossa sociedade em um lugar melhor para se viver, através da prática diária da gentileza nos diferentes ambientes sociais como família, empresas, comunidades e sociedade em geral. A ideia é a de se discutir e estimular a importância de um retorno a valores universais como amabilidades e gentilezas”, revela Samia Aguiar Brandão Simurro, Vice-Presidente da Entidade.

Identificar as causas da perda da gentileza em um mundo globalizado, que prega por mais educação, não é tarefa fácil.

“Há um conjunto de fatores que contribuem para a desvalorização da gentileza. Um deles é a objetificação do Homem e seu paralelo: a humanização dos objetos. Como exemplo, basta ver os comerciais de TV valorizando o “ter” em detrimento do “ser”. Outro fator é a velocidade, a pressa, o excesso de tarefas que as pessoas precisam dar conta no dia a dia. Parar para cumprimentar, dar a vez, ajudar a carregar pacotes, tudo isso toma tempo, um tempo que não temos, por isso a tendência é não investir esse tempo nessas gentilezas que poderiam nos atrasar. Só que não percebemos que o atraso passa a ser na qualidade das relações”, explica Marcos Méier, Mestre em Educação, Psicólogo, Escritor e Palestrante.

Não há, contudo, como falar de gentileza sem falar do ambiente familiar. Segundo Gabriela Cosendey, Psicóloga Clínica, o comportamento do indivíduo revela muito sobre suas origens e a forma como foi criado. “A gentileza é um exemplo dos valores que são transmitidos desde cedo pelos pais e que se espera que sigam com as pessoas ao longo de suas vidas”, enfatiza Cosendey

Samia Aguiar Brandão Simurro, Vice-Presidente da Associação Brasileira de Qualidade de Vida, acredita que o grande problema da sociedade atual é a falta de solidariedade. “Enquanto sociedade, temos cada vez mais problemas que são globais e de todos. Temos os desafios ambientais, a falta de recursos que exigem soluções conjuntas e solidárias para a sustentabilidade do homem e do planeta. É preciso repensar posturas individualistas para que possamos criar um mundo genuinamente hospitaleiro para as próximas gerações onde os valores essenciais possam ser respeitados e os fracos possam ser apoiados e a civilidade seja preservada”, sentencia.

Gentileza de pais para filhos

Ser gentil é, sim, questão de educação e não apenas daquela que se aprende na escola, mas principalmente daquela que recebemos em casa, dos nossos pais e parentes mais próximos.

A redução da gentileza entre as pessoas, de acordo com Marcos Méier, Mestre em Educação, pode estar centrada no que ele chama de endeusamento da infância, provocado pelos genitores da criança.

Segundo ele, as crianças são excessivamente valorizadas, pelos pais, quanto aos seus desejos egoístas e passam a ser umbigo centradas. “Elas querem comidas especiais, querem ser imediatamente atendidas, não sabem ouvir “nãos” e tudo isso as faz se sentir tão importantes que as outras pessoas, incluindo adultos e idosos, nada valem. Assim, esse clima de “tudo para mim” se opõe a qualquer ato de gentileza, pois a gentileza é a manifestação visível do quando reconheço o valor do outro e o quanto reconhecemos isso”, avalia Méier.

Para reverter o processo e resgatar a gentileza é preciso começar cedo, ensinando a criança a brincar sozinha, a fim de que ela saiba o que fazer quando alguém lhe pedir que aguarde pela satisfação de seu desejo. “Isso é o início da valorização do outro”, acrescenta o especialista.

Neste processo, é importantíssimo frisar que o mais importante no ensinamento da gentileza a uma criança é o exemplo. Pais gentis estão sempre ensinando a criança a ser também gentis, mas infelizmente o contrário também acontece.

Além da educação essencial e insubstituível que se oferece em casa, também o Estado tem sua parcela na reforma urgente em prol da gentileza, a começar pela valorização do professor com ações reais. Na avaliação de Méier, de nada adianta afirmar que a Educação é prioridade e deixar o professor sem apoio, sem salário digno e esperar que ele faça o que a família não está fazendo.

Antigamente as crianças já chegavam à escola com os bons modos afiados, já que esta é tarefa dos pais. Contudo, atualmente, se o professor não lhes ensinar essas virtudes, as crianças terão dificuldades nas relações sociais por não compreenderem os mecanismos de respeito ao outro. A gentileza, que seria a complementação disso, fica ainda mais rara.

Por esse e outros motivos, os professores precisam de formação continuada de qualidade. A psicologia que aprenderam em seus cursos de licenciatura ou no curso de pedagogia, não foi suficiente. “Ou se investe na educação de forma séria ou vamos perceber, talvez tarde demais, que será quase impossível viver num país que não respeita os idosos, as pessoas com deficiência ou qualquer outra pessoa considerada diferente. Além disso, a lei do umbigo centrismo vai continuar criando pessoas que não respeitam regras de trânsito, normas de atendimento ao público, ou regras sociais. A falta de gentileza é só a ponta do iceberg”, destaca o educador.

A falha é multifatorial e a sociedade precisa acordar para agir antes que seja tarde. E Marcos Méier adverte: “Os sintomas de uma sociedade doente já estão surgindo: bullying, bater em professor, matar para roubar, violência gratuita e tantas outras”.

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