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O Caminho foi feito…

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Fotos: Arquivo pessoal

Mais um caminho percorrido

Por Antônio

Comecei a Caminhar quando dei os primeiros passos pelos idos de 1956, 57…As possibilidades de encontros e descobertas pelos Caminhos sempre foram para mim motivações capazes de superar todas as dificuldades que porventura pudessem existir e surgir para a realização dos meus projetos de viagens.

Não gosto de teimosia, mas de determinação. Não gosto de dúvidas, mas da busca de respostas e soluções. Entendo que pensar e planejar são complementares ao fazer e que o verdadeiro aprendizado decorre da prática, da experimentação.

Caminhar em direção a um Templo, a um símbolo religioso, a uma manifestação real e concreta da Fé e da capacidade humana de acreditar, sempre estiveram em meu pensar e sentir com simplicidade e discrição. Como planta semeada, o fruto amadureceu nesse maio de 2022. Tudo conspirou a favor, como são as divinas escolhas, como sempre acontece quando estamos no rumo certo.

Nos onze dias de Caminhada, a chuva ameaçou mas não caiu forte; o frio existiu mas não foi paralisante ou insuportável; o Sol foi condescendente e respeitoso; as árvores amigas refrescantes com suas saudáveis sombras; a saúde se manteve perfeita; as subidas e descidas não foram intransponíveis e se revelaram mestras de estratégias, formas e ritmos. Em nenhum momento o medo, a dúvida, a dor e o cansaço se manifestaram como adversários a serem vencidos, mas se comportaram nos limites dos seus papéis educativos na vida humana. Estávamos atentos aos sinais da natureza, manifesto até no cantar dos pássaros, dos galos e no murmúrio das águas. Havia em nós expectativa e curiosidade sadia.

E assim, caminhamos

De passo a passo andamos 240 quilômetros de chão de terra, asfalto, lama, pedra e calçamentos seculares. Nenhuma queda aconteceu, ninguém se machucou. Os sofrimentos e esforços físicos em momento algum chegaram ao espírito ou ameaçaram as nossas almas cheias de perguntas, dúvidas e receios. Extravasamos nos pés, transmutamos nas pernas, aprendemos com o corpo e os sentidos.

Ter feito o Caminho Português de Santiago Compostela não me fez melhor que ninguém, maior que nada, apenas me levou para mais próximo do que tenho de melhor em mim, me fez ver com muito mais clareza o que me faz bem e o que me faz mal na vida que tenho, que vivo e que me resta.

Fazer o #CaminhoPortuguêsdeSantiagodeCompostela não me faz comparável a nada ou ninguém, não me faz provar nada ao mundo, apenas me dá a impagável sensação de ser um buscador do Deus que acredito, da natureza que amo, do Jesus Cristo que admiro, do melhor dos seres humanos que identifico nas posturas, atitudes, gestos e comportamentos. No caminho vi e convivi com pessoas tão diferentes mas absolutamente iguais a mim.

Gente em busca e encontrando. Haviam pessoas de todas as cores de peles, falando as mais diversas línguas, altas, baixas, magras, gordas, de olhos claros e escuros, bem e mal vestidas, com suas imensas ou pequenas mochilas, todas iguais nas iguais condições, com as mais diferentes motivações igualadas no instante comum a todos.

Haviam pessoas sozinhas, a dois, a quatro e de grupos. Haviam pessoas caminhando e outras pedalando, tudo gente absolutamente igual e diferente da gente, identificadas, conhecidas em uma troca de olhar, em um sorriso, em um frase sincera de Bom Caminho, Bom Dia, Buenos Dias, Bueno Camiño. As diferenças de línguas eram superadas por gestos gentis de compaixão e solidariedade.

Eu fiz, aos 66 anos e 3 meses, o que jamais havia feito até então. Com apoios, incentivos e estímulos, parei para caminhar.

Nos últimos muitos e muitos anos nunca me afastei mais de 15 ou 20 dias da minha casa e do meu trabalho, mas, agora consegui e a razão valeu. Saí para andar e pensar, ver, pegar, sentir, ouvir, falar, conhecer, aprender.

Tudo isso aconteceu. Os cheiros de rosas, de mato molhado, de eucalipto, de plantas me fizeram inspirar e expirar fundo por prazer e bem estar, não por exercício.

A vida e o destino, da forma imprevisível de sempre me deu um Companheiro de viajem, um amigo do Caminho, um irmão na passagem, um parceiro fantástico, mas, isso é outra história, merece uma reflexão especial que talvez depois eu conte.

Imagem/foto de Antônio Carlos Aquino de Oliveira
Foto: Arquivo Pessoal

Antônio Carlos Aquino de Oliveira é administrador, especializado em marketing estratégico. Palestrante e consultor dos setores público e privado, é autor de dois livros e colunista da Revista Nova Família

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