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Os humanos estão ameaçados de extinção, diz paleoantropólogo

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Por: Adriana da Silva

O paleoantropólogo José María Bermúdez de Castro reúne em seu novo ensaio, ‘Deuses e mendigos’, todo o seu conhecimento sobre a evolução da humanidade. Podíamos ter desaparecido como os neandertais”, afirma

O paleoantropólogo José María Bermúdez de Castro no Museu da Evolução Humana, em Burgos, em 16 de março. FOTO: RICARDO ORDÓÑEZ

O paleoantropólogo José María Bermúdez de Castro, de 68 anos, codiretor do sítio arqueológico de Atapuerca (norte da Espanha) e primeiro diretor do Centro Nacional de Pesquisa da Evolução Humana, reuniu décadas de pesquisa e reflexão sobre a origem da humanidade em seu novo livro, Dioses y mendigos (Deuses e mendigos, ainda sem tradução no Brasil), lançado em seu país nesta quarta-feira. Esse pesquisador, com uma ampla experiência arqueológica, desvia-se muitas vezes dos caminhos mais batidos neste ensaio que, como ocorre sempre que se fala do passado remoto da humanidade, deixa mais perguntas que respostas. Seu objetivo é percorrer todas as teorias sobre a evolução. O resultado, como admite o próprio Bermúdez de Castro, acaba sendo “uma reflexão sobre a nossa existência”. 

Pergunta. Em seu livro, há um momento em que você defende que a única certeza sobre a evolução humana é que sobrevivemos, que estamos aqui, porque relata que houve muitos momentos em que estivemos à beira da extinção. Realmente é tão extraordinária nossa presença na Terra?

Resposta. A única certeza que temos sobre nossa evolução é que a humanidade existe. Existe, mas poderia não existir. Poderíamos ter desaparecido como os neandertais. Tudo é muito aleatório. Passamos por crise tremendas. Podíamos ter desaparecido por qualquer razão, a que fosse: uma erupção vulcânica ou a endogamia. Entretanto, estamos aqui. Há uma coisa muito importante: somos os últimos de uma genealogia, de uma filogenia, uma única espécie. Tivemos uma filogenia muito florescente e houve muitas espécies humanas que conviveram ou coexistiram ao mesmo tempo na África, na Eurásia, espécies que estão sendo descobertas agora. Desse grupo restamos somente nós. Os neandertais provavelmente se extinguiram por culpa da mudança climática, por uma glaciação brutal, e tiveram um império. Como dizia um amigo cientista já aposentado, não somente estiveram na Europa e no Oriente Médio como também se banharam no Pacífico. E, entretanto, desapareceram. A glaciação que começa há 70.000 anos e termina há 29.000 foi terrível. Acabou com eles e acabou com os cro-magnons.

P. Isso quer dizer que acabou também com a nossa espécie na Europa?

R. Sim, assim como com os neandertais. Ou seja, nos expandimos para fora da África há 120.000 anos. Chegamos ao sul da China, a lugares tropicais, alcançamos o sudoeste da Ásia e a Austrália. Chegamos à Europa 40.000 anos atrás. E desaparecemos, fomos substituídos por outros sapiens, e estes por outros. Ou seja, somos descendentes de uma população bastante recente do Homo sapiens, que chegou no neolítico.

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