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Que legados deixaremos para as futuras gerações?

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Por Beatriz Herkenhoff

Quando pensamos que entraríamos num momento mais tranquilo no enfrentamento da #pandemia, surge uma nova onda de contaminação com a #ômicron. Nossa fragilidade e impotência ficam mais uma vez expostas! E, diante do medo e da insegurança, reafirmamos o sentido da nossa existência.

Tenho refletido sobre como dar continuidade aos sonhos e projetos daqueles que amamos e não estão mais aqui. Tenho dialogado com meus antepassados, identificando como fizeram parte da constituição do meu ser. E meditado sobre como os meus gestos convidam aqueles que me cercam a dar uma contribuição para um mundo mais justo e igualitário.

Nessa dinâmica de mergulho em meu ser, tive a honra de assistir o documentário italiano “A Sabedoria do Tempo com Papa Francisco” (Netflix, 2021). Depoimentos belíssimos do #PapaFrancisco, de #MartinScorcese e mais 18 pessoas de várias partes do mundo. Todas com mais de 70 anos.

Vivências de perdas e superações, de compromisso com a sobrevivência do nosso planeta, de amor e serviço ao próximo, de luta por justiça, entre outras. Sinalizo algumas aqui:

No episódio sobre a temática do amor, uma linda senhora de 88 anos passou a praticar paraquedismo (fotografia impactante) ao perder o filho que gostava de esportes.

Um interessante climatologista neozelandês pioneiro na medição de CO2 na atmosfera relata sua persistência e determinação.

No quarto episódio, em meio à pobreza, à luta pela sobrevivência e migração em busca de uma vida melhor, ouvimos depoimentos fortes de amor e paixão pelo trabalho: um artesão sapateiro vietnamita; uma parteira simples que traz ao mundo inúmeras crianças; uma artista nigeriana e um chef de cozinha israelense que resgata as comidas no tempo de Jesus.

Legados que fazem a diferença

Aprendo muito com pessoas que viveram na pobreza, que receberam pouco amor e que romperam com os condicionamentos negativos, construindo lindas histórias de superação. Ao assistir à minissérie, muitas questões vieram à tona, tais como:

Minha postura convida a mudanças efetivas em prol da humanidade? Desperto o amor, o respeito e a solidariedade no meu dia a dia? Incluo aqueles que nada têm em meus critérios de felicidade ou vivo de forma egocêntrica e autocentrada?

Com certeza marcamos e somos marcados através de nossas atitudes, palavras e também através do silêncio. E, ao pensar nos meus antepassados, lembrei-me do meu avô, que me selou desde a mais tenra idade com seus relatos comoventes. Ele saiu de casa jovem, do #EspíritoSanto, para trabalhar no #RiodeJaneiro.

Meu avô era um excelente contador de histórias. Narrava com densidade suas dores, dificuldades, derrotas e conquistas. Sempre imprimia esperança ao falar sobre cada recomeço.

Ele passava horas em silêncio, absorto no seu orquidário, dialogando com aquele universo tão peculiar das plantas. E era uma festa quando ele enfeitava a casa com dezenas de orquídeas.

Tenho lembranças maravilhosas do período de férias em #Guarapari, quando voltávamos para a praia após o almoço, e ele ficava concentrado escolhendo com paciência as conchas mais bonitas; as pedras miúdas, transparentes e redondas. Organizava tudo em potes de vidro. Inesquecíveis eram os piqueniques em praias pouco exploradas e as trilhas em matas.

Nossa casa em Guarapari possibilitava que os amigos cortassem caminho para ter acesso à praia. Muitos passavam por ali diariamente.

Meu avô os esperava com sorvete de côco. Fazer o sorvete exigia dele dedicação e aperfeiçoamento de técnicas para o sorvete ficar cremoso. Era um sucesso!

Com esse gesto simples, eu aprendia o dom do serviço, da generosidade e a importância de manter as portas abertas para acolher quem quisesse chegar. Muitas intensidades!

Ele deixou nos seus descendentes um espírito aventureiro, desbravador e ousado. Coragem para atravessar mares e viver em países com culturas completamente diferentes da nossa.

Cravou em nós, o amor pela natureza. A paixão por trilhas, por reservas florestais, por rios e cachoeiras. O prazer em navegar, mergulhar, pular de paraquedas, escalar montanhas, entre outras atividades que nos levaram a ir sempre além.

Meu avô deixou também um legado de amor ao trabalho, de ética e honestidade, de respeito e valorização aos que trabalhavam com ele. De sensibilidade e partilha dos dons e das conquistas.

O que somos não se deve a uma única pessoa

Somos formados por um conjunto de influências e modelos familiares, mas, também por pessoas que são significativas e que nos marcaram em nossas decisões e na forma como lidamos com os desafios cotidianos. Por isso, sou grata ao meu avô e a todos que fazem e fizeram parte da minha vida.

Trago um pedacinho de cada um em meu ser. E sinto, cada vez mais, que tenho o compromisso de fazer a diferença nesse mundo.

Que haja mais igualdade, menos pobreza, melhor distribuição de renda, solidariedade e amor ao próximo. Maior respeito e cuidado com nosso planeta, com nossas florestas e com os povos originários. Que outros se sintam motivados a dar continuidade aos meus sonhos e projetos.

E você? Que pessoas marcaram seu jeito de ser?

Se você lembrou de algumas experiências negativas, ainda está em tempo para curar, perdoar e recomeçar. A dor faz parte do processo de crescimento e aprendizado.

Se valorizamos o que vivemos, recebemos e doamos, podemos ser luz por onde passamos…

#sejaluz

Beatriz Herkenhoff é  doutora em serviço social pela PUC São Paulo. Professora aposentada da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo). Autora do livro Por um Triz – Crônicas sobre a vida em tempos de pandemia.

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6 thoughts on “Que legados deixaremos para as futuras gerações?

  • Maria Jose Herkenhoff Carvalho -

    Beatriz, que lindo relato de momentos vividos!
    Seus escritos me levam a bons sentimentos e belas recordações.
    Lembro-me bem do seu Délio e também da “vovó” Maria. A casa delas era, de fato, muito acolhedora.
    Sempre nos recebiam, seus netos postiços, com alegria e amor (e era uma quantidade enorme de crianças e adolescentes que por lá passavam…). Eu gostava muito de ir na casa de vocês em Cachoeiro. Lembro-me, também, do orquidario, lindo demais!
    Para mim, os avós também foram muito marcantes e luz em minha vida. E meu pai e minha mãe, exemplos de amor e dedicação.
    Nossa familia, dos dois lados, sempre foi muito acolhedora e desde sempre pontuou a importância na vida do amor a Deus, da bondade, honestidade e trabalho. Fomos ensinados a não
    ter preconveito e a ter compaixão dos que têm menos.
    Sou grata por ter tido a infância e adolescência cheias de alegria, amor e abertura de coração para o outro.
    Sou grata por você, prima querida, ser tão especial em minha vida.

  • Beatriz Herkenhoff -

    Gratidão Zezé por seu feedback. Lembranças de momentos maravilhosos e que constituem o nosso jeito de ser hoje. Importante resgatarmos o passado para vivermos plenamente o presente

  • Maria Cristina Charpinel Goulart Pratti -

    Lindo texto Beatriz! Lindas recordações de infância e da força familiar advinda da garra e do amor dos nossos antepassados. Importante reflexão para resgatarmos a nossa história familiar, pautada, sobretudo,no sentimento de gratidão. Parabéns! 😘

  • Muito linda essa reflexão e chegou num momento muito oportuno.
    Domingo tenho que fazer um estudo na escola bíblica sobre a influência e com certeza essa crônica vai me ajudar muito.

  • Bia, certamente você faz muita diferença ao propagar seus ideais humanitários , ecológicos e de respeito à ancestralidade. Ler suas crônicas é um refrigério, nestes tempos áridos e sombrios! Parabéns!

  • Muito linda e inspiradora a crônica. Sabedoria é isso, reconhecer que nossos antepassados seguem vivendo em nós, aprender e honrar o melhor que recebemos deles.

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