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Por que o parto humanizado pode ser a melhor opção para mamães e bebês – DENISE PACIORNICK
Dentre todas as provações e modificações que as gestantes passam durante o período da gravidez, para boa parte delas um dos momentos mais delicados é o parto. Infelizmente, no Brasil, uma em cada quatro gestantes sofre algum tipo de violência neste momento, que deveria ser tranquilo e de amparo. Para muitas delas, essa etapa acaba proporcionando terríveis lembranças de pressão psicológica: ameaças, gritos, coações, agressões físicas e sexuais, independentemente de idade e classe social, em hospitais públicos e particulares.
Em muitos casos, por falta de informações claras, a maioria das mulheres não sabe dizer se foi violentada. As sequelas, no entanto, visíveis ou não, ficam para sempre na memória daquelas que sofreram violência obstétrica. Aproximadamente 70% a 80% das brasileiras são submetidas a cesarianas, mesmo desejando ter um parto normal. Isso pode acontecer pela falta de estímulos e pelo medo imposto pelos próprios profissionais envolvidos. E, mesmo no parto normal, alguns processos, como a episiotomia (corte da vagina ao ânus, que tem como objetivo facilitar a saída do bebê), a infusão intravenosa e a pressão sobre a barriga para forçar o nascimento, podem causar danos e traumas na vida dessas mulheres.
Por outro lado, existe uma forma muito mais adequada e tranquila de realizar este procedimento: o parto humanizado. Ao longo da história, dar à luz sempre foi um evento familiar, acolhedor, um momento feminino sagrado. As mulheres eram protagonistas dos seus partos, com autonomia sobre seus próprios corpos e bebês. A partir do momento em que se tornou um evento hospitalar, em um ambiente frio, pouco acolhedor e cheio de intervenções desnecessárias, a mulher perdeu o seu protagonismo, tornando o parto, muitas vezes, um momento traumático.
DO SEU JEITO
O parto humanizado acontece quando a mulher pode dar à luz em um ambiente em que ela é respeitada, em que pode escolher como deseja realizar o parto e quem vai acompanhá-la neste momento – parceiro, parceira ou doula. A mãe poderá amamentar logo depois que seu filho nascer, sem precisar ficar separada dele. A intervenção ocorre apenas nos casos em que houver algum problema.
De acordo com Aline Adriana Calça, enfermeira, obstetra e membro do Grupo LUAR – Parto Domiciliar Planejado, o parto humanizado é focado na mulher, nas suas escolhas e vontades. “As decisões são compartilhadas com as gestantes e são elas as protagonistas do processo de nascimento”, explica.
A humanização na hora de realizar o parto é importante para que o nascimento, um acontecimento fisiológico, seja respeitado de acordo com o tempo da mulher, suas escolhas e vontades. Já para os bebês, a adaptação na vida extrauterina também é fisiológica, o que requer um ambiente tranquilo, sem muita luz e o contato imediato com a mãe, pois a separação abrupta poderá resultar em alguns traumas. “O bebê que nasce bem não necessita de nenhuma intervenção, apenas deve ser aquecido e aconchegado pelo corpo de sua mãe”, explica Aline.
Neste caso, a busca por informações é uma grande aliada. Grupos que realizam o parto humanizado são importantes para que as mulheres tenham opção de escolher a maneira e o local que desejam dar à luz. “Buscar saber sobre o processo de nascimento, pelas vias de comunicação, com profissionais que respeitam a escolha da mulher e conversar com pessoas que tiveram experiências positivas no parto são algumas maneiras de ajudar a melhorar o conhecimento das futuras mamães”, comenta Aline.
A EXPERIÊNCIA
Foi a informação que levou a bancária Melissa Rodrigues a procurar uma médica humanizada. “Antes, eu não queria parto normal por medo da violência obstétrica. Já fiz uma cirurgia cesariana com indicação médica do primeiro filho, mas não gostaria de ter que fazer este procedimento outra vez. Também queria um parto normal sem episiotomia e outras intervenções horríveis. Só o parto humanizado e natural pode proporcionar isso. Eu queria ter autonomia para conduzir meu parto”, revela.
Segundo Melissa, as vantagens da humanização durante a gravidez e na hora do parto são inúmeras. “Parir sem violência obstétrica, preservar a autoestima, não ter traumas no corpo e na alma, só amor e felicidade para poder aproveitar este momento belo e mágico. Na prática, a humanização reduz a depressão pós-parto, elimina os traumas e estimula o aleitamento materno”, ressalta.
Para se preparar para o parto, Melissa comenta que fez Pilates e caminhou na esteira até a 39ª semana, além de fazer exercícios para o assoalho pélvico, que auxiliam o processo. Ela também frisa que o parto humanizado não é sinônimo de parto domiciliar, com dor, ou mesmo desassistido. “Eu tive um parto mais humanizado possível e minha filha foi monitorada todo o tempo. Essa técnica não é sinônimo de parto normal – muitas cesarianas são mais humanizadas que partos normais. A indicação de cirurgia somente por comodidade do médico ou da equipe é uma violência obstétrica, pois oferece riscos para a mãe e o bebê. A cesariana não é um parto, é uma cirurgia de extração fetal, que salva vidas todos os dias, mas não é para ser feita em todas as mulheres, principalmente com hora marcada, fora do trabalho de parto”, alerta.
Para realizar o parto domiciliar planejado é preciso que não haja alteração de saúde da gestante ou do bebê. Ele deve estar em posição cefálica (de cabeça para baixo) e não ter anormalidade física ou genética. Não deve haver nenhum sinal de problemas com a placenta e sua circulação. A gestante deve estar saudável e não apresentar problemas de saúde crônicos ou específicos da gravidez durante toda a gestação e no momento do parto, como pressão sanguínea alta ou estar em tratamento para hipertensão, ter problemas hormonais (hiper ou hipotireoidismo, diabetes), problemas do sistema nervoso (tumores, epilepsia ou depressão), dependência química, má-formação ou problemas do útero (miomas, cirurgia com corte vertical no útero).
Aline explica que a gestante que opta por ter seu parto em casa deve realizar acompanhamento pré-natal com um médico obstetra. A partir das 35 semanas de gestação, deve iniciar o acompanhamento pré-natal com as enfermeiras obstetras do grupo. Ele acontece por meio de visitas domiciliares previamente agendadas, que ocorrem semanalmente, ou conforme necessidade.
QUANDO FAZER?
De acordo com a enfermeira Aline, o parto domiciliar está indicado para:
• Gestantes com o desejo de vivenciar de maneira plena o processo de parir
• Gestantes e acompanhantes seguros e confiantes de o parto ocorrer em casa
• Gestação considerada de baixo risco
• Gestação entre 37 e 42 semanas
• Somente partos naturais (com início espontâneo e sem uso de qualquer medicação para condução do parto ou analgesia)
• Bebês em posição cefálica (que estão com a cabeça voltada para baixo)
PASSO A PASSO
ENTENDA A IMPORTÂNCIA DAS VISITAS DO GRUPO QUE IRÁ REALIZAR O PARTO HUMANIZADO DURANTE A GESTAÇÃO E POR QUE É ESSENCIAL O ACOMPANHAMENTO APÓS O PROCEDIMENTO
ANTES
Quem se decide por esta técnica, deve buscar o acompanhamento pré-natal de obstetras especializados. Os objetivos dessas visitas são:
• Acompanhar o estado de saúde da gestante e do bebê
• Estabelecer vínculo entre a profissional, a gestante e a família
• Identificar e trabalhar situações que podem dificultar a evolução tranquila ou prazerosa de um trabalho de parto
• Planejar o dia do parto
• Preparar a gestante e seus acompanhantes sobre os aspectos que envolvem o trabalho de parto ativo e os métodos não farmacológicos para alívio da dor
• Preparar a gestante para que a amamentação ocorra de maneira efetiva, tranquila e com o máximo de sucesso
DEPOIS
No pós-parto, serão realizadas três visitas: a primeira no primeiro ou segundo dia, a seguir no terceiro ou quarto e uma última por volta do décimo dia. As visitas têm como objetivos:
• Acompanhar o estado de saúde da mulher
• Acompanhar o estabelecimento da amamentação
• Acompanhar o estado de saúde do bebê (peso, altura, vacinas, visita ao pediatra etc.)
• Realizar o teste do pezinho (triagem neonatal)
• Dar oportunidade para a mulher e a família fazerem o relato da experiência vivenciada
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