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Por Antônio Carlos Aquino de Oliveira
Se consideramos que os brasileiros com acesso a algum tipo de educação formal começam sua alfabetização aos seis anos de idade e terão, em média, vinte e dois anos ao concluírem o nível superior – se conseguirem –, haverá milhares de histórias de adultos, jovens e crianças que, em comum, passaram ou passarão dezesseis anos em bancos escolares e, nesse período, terão sido, ou serão, cuidados por, mais ou menos, cento e sessenta professores e mestres, orientados por muitos diretores e coordenadores pedagógicos. Da alfabetização ao nível superior cada brasileiro investirá mais de cento e trinta meses de sua vida, mais de doze mil horas de estudos efetivos, pesquisas, leituras, redações, cálculos e trabalhos, ou o equivalente a onze anos de sua existência.
Não é muito nem é pouco, é o mínimo necessário. Estudar e aprender é tarefa para a vida toda, pelas mais diversas formas, através das mais simples às mais complexas escolas que uma passagem existencial oferece. Se os números a que me refiro acima são expressão da realidade, como aceitar e admitir a existência de analfabetos funcionais: pessoas formadas e graduadas que, embora saibam reconhecer letras e números, são incapazes de compreender textos e realizar operações matemáticas simples, de expressar o que pensam por palavras ou textos; pessoas que não conseguem extrair sentido das palavras, condição básica para quem foi alfabetizado de verdade.
Um país que tem um terço da sua população considerada funcionalmente analfabeta é uma nação condenada, inviável. Como dizer que existem governos, instituições, políticos e políticas públicas em um país com quase setenta milhões de cidadãos à margem de novas tecnologias, excluídos do aprendizado de habilidades dominadas e conhecidas, que melhorariam a qualidade de vida de todos, permitiriam que entendessem o universo, o real significado de cidadania, e transformassem a realidade social e cultural em que estão inseridos. Nos artigos que escrevi sobre desemprego, fome, desenvolvimento e empreendedorismo, sempre abordei a questão do analfabetismo funcional como um problema gravíssimo para o Brasil e para todos os países em desenvolvimento, não civilizados.
No Brasil, alguém com mais de vinte anos que não tenha completado os cinco anos do ensino básico é considerado analfabeto funcional, porém, o mais grave de tudo é encontrar as características técnicas de analfabetos funcionais em brasileiros portadores de diplomas e certificados. Aliás, esse conceito foi criado na década de 30, nos Estados Unidos, e depois usado pela UNESCO para se referir às pessoas que, mesmo sabendo ler e escrever, não conseguem redigir corretamente uma simples carta de apresentação pessoal.
Nesse contexto de mais absoluto descalabro, o Brasil tem o cinismo sistêmico de comemorar o dia #NacionaldaAlfabetização. Em pleno século XXI, o País, sem prioridades, impõe a quase 30{cd1bea5bacaf18d63f2613834c965ffdc12ff81d639635183f79bec16d092a66} dos seus filhos reais barreiras à cidadania e nega a eles acesso ao mercado de trabalho. É uma tragédia admitir que o sistema educacional brasileiro, com todas as despesas e custos que demanda, produz analfabetos.
Dados de 2016, do #InstitutoNacionaldeEstudosePesquisasEducacionaisAnísioTeixeira – Inep –, mostraram que 54,73{cd1bea5bacaf18d63f2613834c965ffdc12ff81d639635183f79bec16d092a66} dos estudantes com mais de oito anos permaneceram em níveis insuficientes de leitura, 33,95{cd1bea5bacaf18d63f2613834c965ffdc12ff81d639635183f79bec16d092a66} apresentaram insuficiência na escrita e 54,4{cd1bea5bacaf18d63f2613834c965ffdc12ff81d639635183f79bec16d092a66} estavam abaixo do desempenho desejável em matemática. Isso atesta a falência de um modelo. O argumento de falta de recursos é tão raso quanto os aviltantes, degradantes e ofensivos R$ 23,00, R$ 30,00 ou R$ 40,00 pagos pelas Universidades “privadas” a professores com especialização, mestrado ou doutorado, bem como os R$ 2.000,00 ou R$ 4.000,00 pagos aos professores por 20 ou 40 horas de atividades nas universidades públicas.
Os brasileiros optaram pela ignorância. O maior atestado dessa trágica escolha é a indiferença, por parte das famílias, diante da situação da educação no Brasil; são as prioridades estabelecidas pelos políticos, com o aval dos eleitores; é a importância dada às ideologias de conveniência e religiões comerciais, em detrimento das questões da educação, com suas consequências na saúde, segurança pública e no desenvolvimento social.
Os brasileiros, por suas ações e omissões, optaram pelo subdesenvolvimento, resultando na tragédia social que aí está. Um terço dos seus filhos passam pelo “sistema educacional” nacional, patriótico, verde amarelo, conservador, progressista, vermelho, com lados e meio, mas continuam analfabetos funcionais. Isso explica e exemplifica que País é esse.
Antônio Carlos Aquino de Oliveira é administrador, especializado em marketing estratégico. Palestrante e consultor dos setores público e privado, é autor de dois livros e colunista da Revista Nova Família
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2 thoughts on “A origem da tragédia chamada Brasil – 1”
Dados e fatos incontestáveis.
Trazer à luz deve estimular uma discussão séria, visando reverter esta realidade “dantesca”.
A universidade não pode fugir desse debate. Por ter melhores condições do saber deve acionar a sociedade para melhores escolhas.