A relação entre irmãos pode ser conturbada e marcada por ciúmes, comparação e competição. Como solucionar essas questões e construir uma convivência mais harmoniosa e fraterna? DENISE PACIORNICK
Quem tem um irmão tem tudo! Esta frase pode ser verdadeira em alguns casos ou não condizer à realidade de muitos lares. Não são raros os pais que precisam enfrentar os conflitos diários entre seus filhos, que estão sempre se provocando, disputando espaço e medindo forças.
De modo geral, a relação entre irmãos nem sempre é simples. As disputas e os embates não favorecem ninguém, mas podem ser o gatilho para provocar as mudanças necessárias a fim de que todos aprendam a respeitar o espaço alheio e a conviver melhor.
De acordo com a psicóloga Lorrany Corrêa, a competição e o ciúme podem atrapalhar muito o desenvolvimento de uma convivência harmoniosa. “Essa rivalidade pode nascer na infância, com o nascimento de um segundo filho. O mais velho é instado a aprender a lidar com o novo e a dividir, não sendo mais o centro das atenções, o que é muito importante para o aprendizado social e a construção dos vínculos, mas que é algo novo e, portanto, difícil para ele. No entanto, o ciúme pode surgir por parte de qualquer irmão na ordem, basta que este se sinta preterido ou não reconhecido em sua individualidade”, destaca. E deixar que o tempo solucione a questão não é uma boa estratégia: é preciso resolver na infância as diferenças, para que na fase adulta o problema não se agrave. Deve-se lembrar que, a partir do ciúme, a inveja, a vingança e a raiva também podem aparecer.
O PAPEL DOS PAIS
A psicóloga explica que brigas são naturais e a resolução desses conflitos depende muito da conduta dos pais, que devem impor limites na agressividade, não alimentar as divergências e respeitar as diferenças. “Se os pais conseguem ver cada filho de forma particular, além das afinidades pessoais, enxergando a importância de cada um, sem comparação, reconhecendo e valorizando as suas características próprias, abre-se uma porta para que os irmãos também possam se ver de maneira isolada e assim aceitarem o outro como ele é”, Lorrany explica.
AMIGOS PARA SEMPRE
Por outro lado, um irmão significa ter alguém para dividir os melhores momentos de sua vida – e ter com quem contar nos piores também –, e as vantagens de ter esse parceiro por perto devem ser sempre ressaltadas, a fim de promover uma transformação positiva nessa relação.
Quando superadas as dificuldades iniciais, os irmãos podem se tornar verdadeiros amigos para uma vida inteira. “Grandes terapeutas familiares ousam dizer que irmãos possuem os maiores vínculos que existem na vida, pois pertencem à mesma hierarquia e participaram, muitas vezes, das mesmas histórias, sendo os seres mais próximos que podemos ter. Irmãos são testemunhas do todo, das experiências vividas, o que pode gerar uma grande cumplicidade por toda a existência”, comenta Lorrany.
Na adolescência, se os conflitos são conduzidos da melhor forma possível, os problemas tendem a diminuir. Nessa fase, criam-se novos laços sociais e os jovens passam a valorizar o grupo de amigos no qual convivem. Este é um bom momento para incentivar o relacionamento saudável e harmonioso entre irmãos, promovendo conversas para falarem de suas experiências e interesses.
Quando chegam à fase adulta, acontece um afastamento natural, pois os irmãos seguem caminhos diferentes para construírem suas próprias famílias. Nesse período da vida, no entanto, a vivência é mais harmônica e pontuada pelo desejo de passar o tempo, agora mais escasso, com qualidade. Por isso, para irmãos adultos e com vidas paralelas, é interessante realizar encontros esporádicos para manter os laços e incentivar o convívio.
