Compartilhar é se importar!
Por: Redação
As raízes são profundas e por isso nas ventanias e tempestades os bambus se curvam mas não quebram, retornam na posição inicial
A imagem de um monge com longas barbas brancas é associada à sabedoria, é só lembrar dos filmes de ficção com aquela criaturinha esquisita que parecia ter mais de 100 anos e tinha resposta para todas as questões existenciais.
Na verdade, a maturidade traz muita reflexão e uma releitura do passado.
Sou uma pessoa urbana por nascença, então quando era criança meus pais decidiram comprar um sítio para que tivéssemos contato com a terra e com animais, queriam mostrar plantações de milho, árvores de jabuticabas e bambus.
Era o nosso refúgio dos finais de semana, mas confesso que para uma menina de 6 anos de idade aquele lugar parecia monótono demais.
Minha mãe amava os bambus e criou um espaço para contemplação, assim que chegávamos ela me convidava para sentar e olhar… eu ia, mas não entendia nada, as duas sentadas quietas para “ouvir” os bambus.
A casa tinha uma grande janela com vista para onde? Para o bambuzal!! Quando ventava muito ou tinha uma tempestade lá íamos nós olhar a “dança” dos bambus.
Para completar, ela dizia que ao plantar a semente deveríamos esperar 5 anos para que o broto surgisse no solo, até então, as raízes estavam crescendo para baixo.
Santa paciência! Ainda bem que eu não era um bambu! Tínhamos quase a mesma idade mas a minha altura era gigante perto do broto.
Foram necessários muitos anos para que eu entendesse a importância desses momentos.
As raízes são profundas e por isso nas ventanias e tempestades os bambus se curvam mas não quebram, retornam na posição inicial.
Este tempo de enraizamento é a nossa preparação para atingir os objetivos, conhece alguma história de sucesso? Você nem imagina quanto sacrifício e quantos anos de trabalho invisível aquela pessoa empreendeu para chegar lá. Não foi sorte nem fórmula
mágica, mas fruto de dedicação, erros e acertos, correções de rota em pleno vôo.
Os bambus são ocos e costumam crescer juntos, um pertinho do outro.
Fica a lição da resiliência, da flexibilidade, da força da união, da necessidade de se esvaziar para dar espaço para o novo.
Afinal, rasgar uma folha de papel é fácil, quero ver você conseguir fazer o mesmo com um livro robusto, de uma vez só.
Conhece alguém arrogante que acha que sabe tudo mas estagnou no tempo e vive só das glórias do passado? Pois é, paralisou porque não reconhece que precisa abrir espaço para o novo. É a famosa frase do Albert Einstein “Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes.”
O mundo mudou e você precisa evoluir com ele, o passado foi lindo mas vivemos no presente para semear o futuro.
Precisei ficar adulta para entender a paixão da minha mãe pelo bambuzal, na verdade o que ela queria mesmo era me ensinar a ter as mesmas características do bambu.
Foi assim que aprendi a não ser rígida e me adaptar às intempéries, a cair e levantar sem fazer drama, a ter humildade para aprender e desaprender e inovar, a pensar no coletivo, ver beleza na simplicidade, ganhar força na união.
Hoje consigo ouvir a música do vento e a poesia da natureza.
E se por algum motivo despenco e vou parar no fundo do poço, lembro de minhas raízes fincadas na terra com profundidade, olho para cima, bem no alto e me imagino tomando impulso para avançar.
Enquanto estiver lá embaixo, aproveito o silêncio para pensar e me fortalecer com fé e esperança por dias melhores. Sem resmungar mas agradecendo todas as experiencias e aprendizados.
A vida não é um conto de fadas, nada é fácil, mas vale muito a pena lutar pelos seus sonhos.
Minha mãe ria quando contava as expectativas que tinha quando casou, foram todos ultrapassadas de maneira fenomenal, com muito esforço e dedicação, e resultados além da imaginação.
Ela viveu como um bambu, superou obstáculos, respeitou os ancestrais, atingiu alturas elevadas, dançou o ritmo da vida sem conformismo, com um sorriso lindo que fazia um som que parecia uma brisa. Por diversas vezes ela se curvou mas retornou mais forte.
Sou muito grata por tudo que ela me ensinou, pela maneira peculiar de transmitir conhecimento sem discursos, como um convite para reflexões.
“O bambu que se curva é mais forte que o carvalho que resiste.”
Compartilhar é se importar!