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Por Alcir Santos
No entardecer, a simples caminhada pelo calçadão, tendo o mar de companhia, acaba sendo, também, uma experiência sensorial. A brisa que corre acaricia o corpo; o murmúrio das ondas, desfazendo-se na areia, acalenta o espírito.
A vida se torna mais leve.
Na direção oposta, o quadro perde todo seu bucolismo, e assusta. Carros de todos os tipos e marcas, de cambulhada com motocicletas, se amontoam, rugindo ora lentos ora lépidos, num atestado inconteste de que a criatura seduziu o criador e agora devora as cidades que já não têm espaço e vivem atravancadas.
Melhor olhar o mar…
O caminhar ainda que forçado, como o médico recomenda, permite dar asas à fantasia, liberar o pensamento, ativar a memória. Sobretudo, atentar para as pessoas e coisas ao longo do percurso. Barcos e canoas, deixados na areia, o mais longe possível
da arrebentação; um pescador que remenda, paciente e atento, sua rede; grupos de pescadores com varas e molinetes; outros a tratar peixes miúdos.
Casais embevecidos, perdidos no mundo que é só deles, entre carícias, cochichos e sorrisos. Pais que ajudam filhos com seus patins, patinetes, bicicletas e skates. Jovens que se exibem no anfiteatro com skates e patins e os que usam as quadras para futebol e basquete.
Para o observador atento há ainda toda uma amostra de tipos os mais diversos.
Desde o hippie perdido no tempo, com suas peças artesanais, passando pelos recicladores empurrando carrinhos abarrotados. Além dos que, encerradas as jornadas, lotam os pontos à espera do transporte, oferecendo um caleidoscópio de cores, roupas, cabelos, trejeitos, a maioria de olhos pregados nos indefectíveis celulares.
E há os que a sociedade esqueceu.
O de cabelos crespos, imensos, barba cerrada que vai e volta entretido em conversas consigo mesmo. Aqueloutro de lenço
amarrado na cabeça e saco cheio, pendurado às costas, simpático e sempre atento para o cumprimento com um largo aceno de mão, braço estendido.
Ah, e as corujinhas?
Não se pode deixar de apreciá-las, sempre atentas, voltadas para o mar, e que não toleram intimidades nem aproximações.. Qualquer movimento do passante e lá vão elas voando, em busca de porto seguro.
Mas é preciso estar atento: um perigo ronda o caminhante.
Os temidos “bicicleteiros”, queabandonam as ciclovias e vêm disputar com os pedestres o espaço do calçadão, velozes e ríspidos. Vez por outra atropelam e seguem correndo.
O simples caminhar vai além da atividade física.
É uma oportunidade sem igual de sentir momentos da vida que pulsa na cidade grande, plena de tipos e situações os mais diversos possíveis. Momento de reflexão e, por que não dizer, aprendizado.
Alcir Santos é aposentado e leitor compulsivo. Coisa ele diz: “ex um bocado de coisa”, de office-boy, bancário, professor de História e Direito Civil e Prática Forente a juiz. Colunista da Revista Nova Família
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