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Por Beatriz Herkenhoff
Sempre amei comemorar meus aniversários. Nunca deixei passar em branco essa data: fico dias preparando, priorizando a simplicidade e o despojamento…
É muito prazeroso receber em minha casa aqueles que amo. Esse movimento renova minha energia e gratidão pelo dom da vida.
Abraços calorosos, conversas animadas, amigos e familiares que se reencontram, piadas que se repetem a cada ano, gargalhadas garantidas. E o meu coração aberto para as bênçãos derramadas nesse dia tão especial. Para mim, festar significa renovar a esperança e o sentido da existência. Criar um círculo permanente de amor e afeto, fortalecendo a autoestima e o sentimento de bem querer.
A vida possibilita conquistas, mas, também momentos de tristeza e de luto. Não posso ficar indiferente àqueles que sofrem porque não têm o mínimo necessário para sua sobrevivência. Mas, a solidariedade e o compromisso com um mundo mais justo exige uma dose extra de esperança e persistência, por isso, é preciso recomeçar sempre.
Não imaginei que realizaria uma grande festa nos meus 60 anos. Com um detalhe, eu ainda estava completando 59.
Não consegui esperar um ano para concretizar esse desejo
Envolvi uma rede de amigos e primos queridos para pensar os preparativos. Reservei um espaço amplo e aconchegante, o cerimonial Bell’s.
Decidi que seria uma oportunidade de valorização da arte em todas as suas dimensões
Metaforicamente, a arte nos salva e possibilita seguir em frente. E com esse propósito, a arte ocupou todos os espaços da festa, expressa na decoração, na homenagem ao cinema, à poesia, à música e à dança.
O amor também nos protege das agruras da vida, por isso, a escolha dos convidados foi muito especial. Inicialmente pensei em 80 queridos/as que fazem a diferença em minha vida, mas, fui ampliando, não queria deixar ninguém de fora e no dia compareceram 120 amigos de diferentes grupos de pertencimento do passado e do presente, além de familiares: mãe, irmãos, cunhado, cunhada, filho, nora, sobrinhas, afilhados, tios, primos e amigos do meu filho.
Cada um que chegava era recebido com abraços fortes, unindo coração com coração. Muito amor envolvido!
Gabriela, minha sobrinha fez a maquiagem. Senti-me poderosa! Contratei o profissional Marco Albuquerque que filmou tudo. E ele disse:
“Beatriz, os seus convidados expressam uma alegria sem fim. Nunca participei de uma festa tão intensa como essa.”
Ao entregar o CD, Marco surpreendeu-me com uma homenagem que me fez chorar de emoção. Os convidados gravaram lindas mensagens sobre o significado da minha vida para eles.
O convite já foi uma arte: uma foto minha na praia com o sol nascendo. Deitada na areia, pernas para cima, com os seguintes dizeres:
“Quase nos 60 é hora de respirar fundo. Fazer um balanço geral, retocar a maquiagem e colocar salto alto para entrar cheia de glamour, em outra fase. Para comemorar com alegria esse momento tão especial de minha vida, espero você no dia 12 de dezembro. Preparem os braços para muitos abraços e os pés para dançar com a banda Dibutuka. Beijos da Beatriz, Bia, tia Bia.”
Contratei meu primo Ricardo Pimentel que arrasou como fotógrafo. Solicitei que todos chegassem meia hora antes para que pudéssemos tirar as fotos, pois, eu queria ficar inteira na pista de dança.
Atenderam meu pedido. Quando a banda Dibutuka começou a tocar, os convidados já tinham chegado e tivemos tempo de sobra para cantar e dançar, ninguém ficou sentado. Tiramos os pés do chão, interagimos com a banda, vibramos com cada música, diferentes estilos: Pop Rock, MPB, Samba, Forró entre outros.
Vivências fortes, emocionantes e divertidas! Muitas trocas afetivas, declarações de amor e de admiração.
Meu querido mano Tita (amigo de juventude), baterista talentoso da banda Dibutuka, esteve por detrás desse instante mágico. Ao lado de Carlinhos na guitarra, Julinho no baixo e Gilver, com sua potência vocal. Cris Brasil, minha prima, nos impactou como decoradora. Com criatividade e bom gosto, fez lindos arranjos e cenários.
Como sou apaixonada por cinema, queria que o ambiente expressasse meu jeito de ser e viver. A decoração teve como mote a sétima arte.
O ambiente ficou iluminado com cartazes de filmes espalhados pelas paredes, também com rolos de filmes com fotos dos convidados. Foi gostoso ver como todos curtiram cada detalhe, procuravam suas fotos nas paredes e posavam na cadeira do diretor, com as cartolas e chapéus de Charlie Chaplin.
Na entrada um cartaz de cinema com minha foto, o título do filme: “A arte do bem viver de Bia.” As queridas Helena e Daniela fizeram essa linda arte gráfica.
Convidei Ricardo Galeta que aceitou ser meu par numa apresentação de forró. A dançarina Renata Barcelos montou a coreografia e ensaiamos durante dois meses. Trabalho duro, prazeroso e gratificante. Ela sugeriu uma roupa especial para a apresentação da dança. Assim foi, troquei de roupa como uma adolescente de 15 anos. Foi surpresa para todos, consegui guardar segredo.
Muito vibrante a sinergia entre eu e Ricardo. Muitos aplausos, assobios, gritos animados. Acho que arrasamos!
Foi emocionante também dançar forró com meu filho Stefano. Nada planejado, nem ensaiado, mas, o coração disparou de tanto amor.
Estimulada por Desirée escrevi uma poesia e minha amiga Inês declamou para todos. Imprimi num papel especial, enrolado e selado com o negativo de filme. Essa foi a lembrança recebida por cada um.
O tempo e a malabarista
Desde menina era equilibrista. Virava cambalhotas, plantava bananeiras, escalava árvores e pedras.
Desvendava os prazeres da vida em companhia dos primos. Era uma aventureira!
Na adolescência tornou-se baliza: rodando os bastões; fazendo estrelas e pontes. Era criativa e livre!
Na juventude manteve essa busca pelo novo e pelo inusitado. Viveu grandes aventuras, namorou, amou, apaixonou-se. Era sensível e faceira!
Quando adulta optou por lutar por um mundo mais justo e igualitário: correu riscos, foi solidária e comprometida. Era corajosa e audaciosa!
Ao tornar-se mãe, voltou ao seu tempo de criança. Ficava encantada com os contorcionistas, malabaristas e equilibristas do circo. Recolhia as sementes de sua infância e plantava no coração do seu filho. Tornou-se uma mãe feliz, alegre, criativa, plena e realizada.
Na maturidade, viveu a alegria de amar e ser amada. Voltou a ser a menina aventureira; a adolescente criativa; a jovem faceira; a mulher corajosa, feliz e plena.
Por tudo isso essa mulher transformou-se numa borboleta, que gosta de voar, fantasiar, sonhar, dançar, beijar, levar cor, luz e ousadia por onde passa.
Ao completar 59 anos, sua alma pediu que realizasse essa festa de pura alegria e gratidão a todos vocês.
Após a dança e a declamação da poesia. Reuni em círculo todos que foram significativos na realização dessa festa. E minha mãe fez um discurso lindo, deixando vir a tona o que estava no coração de cada um.
Senti-me motivada a escrever uma crônica sobre essa vivência porque com a pandemia fiquei isolada durante dois anos, convivi somente com minha mãe, irmão e cunhada.
Percebi que essa comemoração me deu uma energia extra para enfrentar todas as adversidades e desafios postos pelo isolamento. Reafirmei a importância de não deixar para amanhã a realização de nossos sonhos e projetos.
A explosão da alegria nos ajuda a sair da “sofrencia” e da lamentação diante de tantas perdas vividas na pandemia e no momento atual do Brasil.
Essa comemoração teve um significado especial em minha vida. Além do amor que pude dar e receber, da presença de todos que vieram de longe e de perto, simbolicamente voltei no tempo quando com 15 anos perdi um tio muito querido e não pude comemorar uma data tão importante. O luto foi vivido e elaborado naquela ocasião, mas, o desejo de celebrar ficou guardado.
Reciclei e ressignifiquei essa etapa.
Fecho com Charlie Chaplin que tanto nos ensina com sua arte:
A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios.
Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.
Vamos resgatar e valorizar a arte e a cultura em nosso país.
Vamos viver o presente com intensidade!
Festar, esperançar, confiar, amar e resistir.
Beatriz Herkenhoff é doutora em serviço social pela PUC São Paulo. Professora aposentada da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo). Autora do livro Por um Triz – Crônicas sobre a vida em tempos de pandemia.
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8 thoughts on “Celebrar é preciso”
Beatriz além de maravilhosa como pessoa consegue colocar em palavras experiências e sentimentos que nos comove e faz vibrar nossos corações. Parabéns!!!!!
Gratidão Helena. Fico feliz por contagiar e alegrar com minhas palavras e experiências. Vivemos momentos difíceis em que a energia do amor precisa predominar. Você fez parte desse momento tão especial em minha vida, presenteando-me com aquele lindo cartaz de cinema em que sou a protagonista. Memórias afetivas que ficam para sempre
A narrativa foi tão envolvente e perfeita que vivi essa festa marcante! Salve Bia mulher realizada! Vivas à Bia grande escritora!
Minha querida Beatriz, não importa a idade que estejas a celebrar, sempre serás a senhora absoluta de todas as idades. Teu espírito traduz um eterno festejar. Me sinto mais do que privilegiada em fazer parte desse teu viver sempre intenso. Vamos celebrar!
Obrigada Zezé por palavras tão lindas que reafirmam a minha alegria de viver e compromisso com o mundo em que todos possam celebrar.
Teresinha, amei quando você diz que eu serei a senhora de todas as idades. Quando amamos temos sempre motivos para comemorar. Sou grata também por sua intensidade e presença em momentos tão importante. Vamos em frente!
Que palavras lindas Alcir. Eu me reencontro através do seu feedback. É verdade para mim não existe a palavra envelhecer, no sentido de perder as forças, a energia para novas aventuras e vivências, a partilha do Amor com aqueles que me cercam. A vida é um eterno celebrar e recomeçar com esperança. Gratidão
Olá tudo bem? Espero que sim 🙂
Adorei seu artigo,muito bom mesmo!
Abraços e continue assim.