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Fala com sabedoria, ensina com amor

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O título dessa crônica é o lema da #CampanhadaFraternidade2022

Por Beatriz Herkenhoff

Imagem: Reprodução

Tive dúvidas em relação ao tema porque ao refletir sobre a #Quaresma, falo de um ritual relacionado a algumas igrejas cristãs. E esse espaço é muito mais amplo e abrangente. Por outro lado, os questionamentos levantados não se fecham num momento temporal (Quarta-feira de Cinzas – Páscoa) porque, independente da vivência religiosa, somos convidados, permanentemente, a fazer uma revisão de vida.

Da mesma forma que podemos ser fonte de luz para aquele que não é religioso. Ele também nos ensina com sua dignidade, compromisso, ética e capacidade de amar e servir.

Como cristã, gosto do período da quaresma

Sinto-me chamada a mergulhar em minhas próprias misérias, limites e sombras, também em minhas qualidades e potencialidades. Convidada a resgatar a força do amor e da ternura. Viver o perdão, o respeito, a tolerância, o silêncio, a solidariedade, a compaixão, a misericórdia, a generosidade e o serviço aos mais pobres.

Como amar verdadeiramente? Como contribuir para a construção de um mundo melhor? Como falar com sabedoria e ensinar com amor? Como incluir todos no processo de ensino e aprendizagem, sem criminaliza-los por sua condição social? Como caminhar com o pobre e repartir o pão? Como ser instrumento para redução da desigualdade social? Como acolher os imigrantes e abandonados desse mundo?  Como cuidar do nosso planeta terra e de suas riquezas naturais?

Não posso fazer uma revisão de vida sem considerar as demandas, as contradições e as carências da sociedade em que vivo

Quando eu era jovem, a quaresma era permeada por um silêncio imposto. A partir da quarta-feira de cinzas não podíamos cantar, dançar, falar mais alto. Ficávamos esperando o ´Sábado de Aleluia (Páscoa) para extravasar toda alegria e espontaneidade que tinham sido reprimidas.

Talvez eu fosse imatura para compreender a profundidade desses gestos, mas, na maturidade, a quaresma ganhou novo sentido: não preciso parar de cantar ou de dançar, mas, crio espaços de recuo para questionar que mudanças são necessárias para que eu possa contribuir com um mundo mais humano, justo e igualitário. Que ações e atitudes me levam a sair do egoísmo e da superioridade? Como dialogar com as outras religiões e com aqueles que não professam uma fé?

Como formar uma unidade entre as religiões e demais instituições em busca da paz, de uma educação inclusiva e da harmonia no mundo?

Qual a concepção de Deus que me orienta quando faço uma revisão de vida? Um Deus vingativo, que julga; controla, vigia; acusa, castiga, exige trocas para se alcançar a salvação? Um Deus que gera sentimentos de medo e de culpa? Ou um Deus que é puro amor, misericórdia, aceitação, perdão, inclusão e acolhida? Um Deus que nos aceita com nossos limites e fracassos. Que se inclina para aqueles que menos têm?

Na relação com um Deus que ama incondicionalmente, não preciso ficar triste, nem me sentir culpado durante a quaresma. A alegria, o amor, a gratuidade e a confiança conduzem a revisão de vida

O jejum faz parte desse período, mas, para mim, o maior desafio é o jejum do silêncio em relação à postura do outro. Diante desse propósito, percebo o quanto a língua é ferina, realiza divisões, faz fofocas, julga com soberba, com sentimento de onipotência e superioridade.

E fica a questão: quem disse que sou melhor do que aquele que é diferente de mim?

O sentimento de superioridade e julgamento enfraquecem o amor

A partir de 1962, com a Campanha da Fraternidade (CF), o tempo quaresmal passou a ter um sentido de mudança pessoal direcionada para a solidariedade. Por isso, todo ano a #CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) escolhe como tema central um problema concreto vivido pela sociedade brasileira.

A partir de 2000, a Campanha da Fraternidade passou a reunir de forma ecumênica Igrejas Cristãs, como: Católica, Presbiteriana Unida, Anglicana, Luterana, entre outras. Enriquecendo e ampliando mais ainda esse momento tão importante de revisão de vida. A Campanha da Fraternidade  2022 nos convida a refletir sobre “Fraternidade e Educação” com o lema “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31, 26).

Foram produzidos muitos vídeos e documentos para subsidiar a campanha. A educação não é concebida apenas como um ato escolar, como transmissão de conteúdos ou preparação técnica para o mundo do trabalho.

Educar não é um ato isolado. É um encontro em que todos são educadores e educandos. É uma tarefa que envolve a família, a escola, a Igreja e a sociedade.

E fica a pergunta: eu falo com sabedoria e ensino com amor no meu dia a dia? Qual a minha postura nos diferentes espaços que ocupo?

O perfil da escola pública no Brasil indica um alto índice de crianças, adolescentes e jovens que vivem em sua maioria na pobreza: sem-teto, sem-terra, sem-casa, sem-comida. Por isso, em nossa revisão de vida à luz da Campanha da Fraternidade, temos que incluir o diálogo entre as políticas educacionais e a desigualdade, entre educação e pobreza.

Como transformar a indiferença e insensibilidade em relação aos pobres em gestos de compromisso e solidariedade? Como torna-los visíveis aos nossos olhos? Como lutarmos para reduzir a desigualdade no Brasil? Como transformar a educação em instrumento de inclusão social?

Somos chamados a uma educação que “se coloque a serviço da vida humana, em especial, dos mais pobres” (CF 2022)

As mudanças não são só individuais, mas, coletivas. Exigem que os órgãos públicos desenvolvam políticas de acesso e permanência na escola, ações afirmativas, políticas de renda, de comida, de justiça e equidade.

Nesse contexto é fundamental a participação da sociedade organizada, das pastorais, dos movimentos sociais e dos movimentos diversos da sociedade civil na escola. Nos diversos espaços e âmbitos da atividade educativa escolar: nas reuniões de pais, nos conselhos de escola, nos conselhos municipais e estaduais de educação, pois a educação escolar não pode ficar restrita apenas ao âmbito do Poder Público.

Que outros elementos você acrescentaria nessa busca por uma mudança de vida pessoal que gere transformações também na sociedade?

“Que possamos alcançar uma educação integral, fraterna e solidária” (Texto Base CF 2022, nº 5). Que a sabedoria, o ensinamento e o amor transforme cada um/a.

Imagem: Arquivo pessoal

Beatriz Herkenhoff é  doutora em serviço social pela PUC São Paulo. Professora aposentada da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo). Autora do livro Por um Triz – Crônicas sobre a vida em tempos de pandemia.

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