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Celebrar a iniciação de alguém a algo é uma prática que, com certeza, precede os registros históricos. Mesmo quando o conhecimento humano ainda era apenas repassado de gerações a gerações de forma oral e não escrita (a Pré-história), algum tipo de ritual deveria ser utilizado para marcar a purificação, entronização, e/ou, ainda, a passagem de alguém a um nível de conhecimento ou de vivência superior. Essa dedução se dá apenas pela observação da índole humana (muito apegada a esse tipo de “marcas” ao longo de sua existência) uma vez que, como é sabido, da Pré-história não temos registros. Várias crenças religiosas se utilizam dessa forma de iniciação, conhecida como “batismo”. Vamos tratar de alguns desses rituais, liberdade individual de culto: “Devo eu ou não, influenciar a vida espiritual de minha família e, em especial, a de meus filhos? ” – Sylvio Montenegro
Da forma como o conhecemos largamente no Brasil, um país de fortes origens cristãs, o batismo é uma prática de diversas igrejas e confissões baseadas no Cristianismo, uma das três maiores religiões do planeta (as outras são o Judaísmo e o Islamismo).
A palavra “batismo”, que para muitos representaria apenas esse processo de iniciação de um membro a uma determinada crença religiosa, vem do grego “baptizo” e não significa apenas “imergir” (mergulhar, entrar em, afundar, penetrar em, adentrar em), como se acredita de uma forma geral, mas também “aspergir” (borrifar, respingar) e lavar. Alguns a traduzem também como “efusão” (derramar).
Segundo o Dicionário Informal, “a forma como foi usada tanto por Jesus quanto pelos apóstolos, deixa claro esse conceito. Primeiro porque o batismo corresponderia uma realidade plena do ritual de purificação feita já então pelos sacerdotes levitas, desde os tempos de Moisés. A diferença é que, como rito de purificação, o batismo anteriormente era repetitivo, simbólico e temporário”. Com Jesus, para os cristãos, se tornou único, verdadeiro e permanente.
Mas é bom que se diga que num artigo como este, na Revista Nova Família, estaremos longe de “fechar questão” sobre o assunto. Até porque, para que isso ocorresse, seria necessária uma minuciosa comparação teológica entre o Antigo Testamento (que acima de tudo significa um tempo histórico em que está em vigor uma Aliança (Testamento) estabelecida por Deus em Abraão e depois renovada, entre Deus e o povo israelita) e o Novo Testamento (a Nova Aliança formada então entre Deus e seu filho Jesus).
Como fazem judeus e islamitas
Num pequeno paralelo com as duas outras grandes religiões mundiais, no Judaísmo, quando nasce uma menina, ela é levada a uma sinagoga e recebe um nome perante o Torá, o livro sagrado dos judeus. No caso dos meninos, ele recebe seu nome durante a circuncisão, diante de outros dez homens. A iniciação religiosa propriamente dita se dá aos 13 anos (meninos) na bar-Mitzvá, ou aos 12 anos (meninas) no bar-Mitzvá. Nas duas cerimônias os “batizados” devem demonstrar a entrega à nova fé lendo trechos do Torá e orando em hebraico. Já no Islamismo, a primeira coisa que uma criança ao nascer deve ouvir é o nome de Deus. Então, o pai diz o Azan no ouvido da criança. O Azan é um culto islâmico que precede as orações religiosas. Além disso, ainda na primeira semana de vida, o bebê tem seus cabelos raspados e seu peso, em prata, deve ser doado aos mais necessitados. A criança recebe seu nome durante o momento do Azan e a família, posteriormente, oferece o akkik; um banquete normalmente servido com carneiro como prato principal, já que ele é um animal simbólico na história de Abraão.
O batizado cristão
Já no Cristianismo, doutrina criada por Paulo de Tarso (o convertido de Damasco), através das interpretações das palavras de Jesus de Nazaré, há muitas concordâncias e discordâncias (de conteúdo e forma) as diversas confissões que se intitulam cristãs. É praticamente impossível que haja um texto explicativo completo e isento para se fazer essa análise de forma minuciosa e independente. Para cada denominação (e são incontáveis) existem explicações e contra explicações a respeito, todas fazendo analises particulares umas das outras, sempre, é claro, sob sua própria ótica particular.
O arrependimento é condição essencial para o batismo em praticamente todas elas. Mas quando se pensa em batismo como regeneração e forma de concessão de vida espiritual, igrejas tradicionais discordam disso, como a Presbiteriana, a Batista, as Cristãs Congregacionais e as Testemunhas de Jeová. Dentro de outras nem existe consenso a respeito: Comunhão Anglicana, Metodista e Assembleia de Deus são algumas das principais.
O batismo de crianças é outro ponto de profunda reflexão entre os cristãos. Enquanto igrejas tradicionais como a Católica Apostólica Romana, a Ortodoxa, a Luterana, a Metodista e a Comunhão Anglicana (na maioria das subdenominações) o praticam, outras também não menos tradicionais não concordam.
A alegação é que, sendo um ato de arrependimento, não haveria sentido em imaginar que um recém – -nascido ou ainda uma criança em idade muito pueril tivesse algo do que se arrepender (ou mesmo condição de analisar isso), bem como de pecados a serem perdoados.
Em alguns casos, como a Católica Apostólica Romana (maioria absoluta dos cristãos brasileiros), o batismo deve ser confirmado quando o jovem já estiver em condição de entender o processo. Isso se dá através também de dois outros sacramentos: a Primeira Eucaristia (antiga Primeira Comunhão) e a Crisma.
Em um passado não muito distante, o padrão do batismo também foi muito discutido: algumas confissões não concordavam com a evocação da Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo), fazendo isso apenas em nome do “Senhor Jesus”. Hoje em dia, apenas os Pentecostais do Nome do Senhor Jesus continuam com essa prática. No entanto, vale ressaltar que os mórmons, adeptos da Igreja de Jesus Cristo dos Últimos Dias, apesar de evocarem os três elementos da Trindade, não a aceitam conforme discutida no Concílio de Nicéia, em 325 d.C., a não ser apenas como Divindade. Já as Testemunhas de Jeová, pouco antes do batismo, confirmam a crença em Jeová, em nome de Jesus. No momento exato do batismo nada é dito.
A forma da participação da água também varia entre as denominações: a imersão, a aspersão e a efusão são utilizadas de forma muito particular de cada uma delas. Todas com explicações (baseadas em interpretações) dos textos evangélicos e também do Antigo Testamento.
Outras crenças importantes entre os brasileiros
No Brasil, três outras crenças religiosas são também bastante disseminadas:
No Espiritismo, (doutrina filosófica com aspectos científicos e consequências morais, conforme ela mesma se define) codificado, em meados do século XIX, por Allan Kardec (codinome do ilustre professor francês Denizard Hippolyte-Léon Rivail – nome que consta de seu auto de nascimento), apesar de se auto intitular como uma doutrina cristã, não adota nenhum tipo de batismo.
Já no Candomblé, a criança é batizada num ritual conhecido como ekomojade. Nele, o pai de santo é consultado para saber qual o orixá (divindade) do batizado, e então, é escolhido um nome religioso africano para a criança. Ela também é banhada em vários líquidos. Os orixás são fixados apenas após longo isola – mento e purificação, antes da pessoa ser apresentada a comunidade.
A Umbanda, religião sincrética, que reúne elementos tanto do Cristianismo quanto do Espiritismo e do Candomblé, tem uma variedade enorme de formas de batismo, mas todas elas partem do princípio do batizado cristão que frequentemente é realizado na natureza, com especial predileção de seus crentes às cachoeiras e quedas d’água.
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