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Não há um nível do conhecimento humano mais aberto às conveniências do que o nível da crença. Aquele que gera o nível “teológico” e, consequentemente, o religioso, baseado nas mais diversas religiões espalhadas pelo mundo, formas particulares de pensamento acabam por tentar se impor umas às outras. E daí surge uma dúvida àquelas pessoas que realmente prezam pela liberdade individual de culto: “Devo eu ou não, influenciar a vida espiritual de minha família e, em especial, a de meus filhos? ”
É bom lembramos que “crer” também é “conhecer”, só que de uma maneira intuitiva, sem grandes explicações a respeito. Algumas religiões até se aproveitam dessa intangibilidade do saber para, através de “crenças inexplicáveis”, subjugar seus fiéis. Outros níveis mais famosos de conhecimento são o “empírico” (aquele que se sabe por experiência e não por estudo, sem preocupação com suas causas), o “científico” (que vai além do mero empirismo exatamente porque busca suas explicações, causas e consequências) e o “filosófico” (que parte da análise do material para o universal, elaborando hipóteses e postulados para as grandes perguntas da Humanidade: Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou? E por que estou aqui?).
Tratamos aqui apenas do conhecimento “teológico” e de sua relevância para a família de uma forma geral.
Devemos? Podemos?
Uma das funções primordiais de pais, responsáveis, educadores e tutores é a de orientar seus dependentes. Em todas as circunstâncias da vida. Por que a religiosidade seria diferente?
No entanto, devemos ter com os nossos familiares a mesma caridade proposta por todas as confissões religiosas: o respeito ao próximo. Isso significa que sim; não só temos o direito, como a obrigação de apresentarmos, aos nossos, a nossa forma de pensar a religião e colocar à disposição deles essa educação que nós mesmos obtivemos em algum momento de nossas vidas.
Porém, existe um pressuposto bastante esquecido no seio familiar quando se trata da educação religiosa. A multiplicidade de opiniões. Seria bastante difícil que qualquer pessoa conseguisse passar a alguém todas as variações de crenças de todos os tempos em todos os lugares para que esse “aprendiz” pudesse escolher sua forma de pensar. Ninguém tem esse conhecimento todo. Mas, adotando-se um princípio filosófico de Sócrates, podemos sim achar um caminho respeitoso para falarmos de fé: “Tudo o que sei é que nada sei”.
Podemos falar do que acreditamos, mas devemos deixar claro que isso não é a “verdade” definitiva, mesmo que nossas religiões assim se autoproclamem. Falando e exemplificando nossas crenças pessoais (sim, porque toda crença “É” pessoal, por mais que se aglutinem as pessoas) estaremos mostrando uma luz no caminho de quem está se descobrindo em sua formação humana. Mostrando; não impondo.
Mas sabemos o que é “Religião”?
A palavra “religião” deriva do latim “religio, religionis”, que têm o sentido de “culto, cerimônia, lei divina, santidade, prática religiosa”. O problema começa quando se busca qual o verbo que esse substantivo latino teria formado nominalmente: “religare” ou “relegere”? Parece mera discussão acadêmica, mas é fundamental para sabermos do que estamos falando e o que iremos falar aos nossos familiares.
A maior parte das doutrinas religiosas costuma vincular “religião” com o vulgo “religare”, que, na prática, quer dizer “religar, atar, apertar, ligar bem”. Nessas explicações doutrinárias, “religare” seria a tentativa de “religar” o Homem a Deus. Pode até ser uma visão bonita e parecer ter sentido. Mas ela explicaria muito o porquê de tanta resistência por parte de jovens e adolescentes em adotar uma religião. Quem, de bom grado, gostaria de estar “atado”, “apertado” ou “bem ligado” a alguma coisa, sendo que, assim interpretada, a religião traria, intrinsicamente, a ideia de falta de liberdade?
Por outro lado, “relegere” (“meditação”, “a consideração atenciosa para com as coisas que dizem respeito a Deus”; além de “reeleger”, “reescolher”) não é tão aceita como origem de religião, mas parece ser a que mais se aproxima do sentido que se gostaria de dar a ela, trazendo, aí sim, a possibilidade da reflexão sobre crenças, nas escolhas, reescolhas, através de uma meditação atenciosa nas coisas que diriam respeito a Deus. Convenhamos: para a juventude em sua fase de descobertas isso é bem mais atraente e faz muito mais sentido.
“Verdades” e “verdades”
Tentemos fazer uma pessoa pensar sobre suas crenças – e não simplesmente aceita-las sem explicações – e teremos uma fé robusta e consolidada. E, caso não a tenhamos ainda, pelo menos não teremos uma crença que se destruirá na primeira dificuldade vivenciada por essa pessoa.
E, verdade seja dita, não é o que entendemos como verdade que vai se perpetuar. Conheçamos ou não a “verdade”, ela, a “verdade”, se imporá no momento necessário por conta própria, sem precisar de nenhuma ajuda opinativa de ninguém.
O quarto nível de conhecimento
Podemos conhecer coisas porque aprendemos na prática o que elas significam…. Podemos conhecer coisas porque as estudamos e as esmiuçamos a exaustão para que soubéssemos explica-las até que outra pessoa a explique melhor…. Podemos conhecer coisas de forma dedutível, utilizando-nos dos nossos outros dois níveis de conhecimento anteriores, já adquiridos…
No entanto, nenhum desses três conhecimentos faria o menor sentido, se não dependesse da sua utilização e das consequências morais que dele adviriam. O conhecimento religioso serve para balizar não as perguntas filosóficas aqui já colocadas (Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou? E por que estou aqui?), mas sim uma outra tão importante quanto as demais: “Como vivenciar essa vida? ”.
O espírito de família Ao educarmos nossa família num ambiente de busca de conhecimento em todos os seus níveis, mas com respeito às diversidades, opiniões, crenças e “certezas”, estaremos sim criando um ambiente sólido, não estanque, e de muito afeto emocional e amorosidade universal. A religiosidade tratada com a mais pura espiritualidade é remédio para qualquer momento difícil. Para qualquer lugar…. Em qualquer época!
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