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Segunda-feira sem fome

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A solidariedade que enche a barriga

Fotos: GazetaViews

Por Adriana do Amaral

Todas as segundas-feiras, há sete anos, as voluntárias da #IgrejaSantoAntoniodeLisboa, do #Tatuapé, começam a trabalhar cedinho. Umas fazem a comida, outras embalam e duas equipes vão às ruas centrais da capital paulista para distribuir alimentos. No dia 21 que passou o cardápio era polenta com salsicha.

Discretamente, aos poucos e com educação extremada, o #PovodaRua vai chegando… Um a um eles recebem a “marmita” com uma troca de sorrisos. Reciprocidade de quem entrega e recebe a comida que alimenta o corpo e o cuidado que alimenta a alma.

Uns comem ali mesmo, sentados no canto mais próximo, outros levam para o jantar. Alguns pedem para levar para quem espera num canto da calçada ou debaixo de uma ponte ou ocupação.

Chama a atenção o diálogo entre o senhor (que parece ser idoso, mas nunca se sabe, pois a rua envelhece) com a voluntária:

-Quer mais uma, para o jantar?

-Não, outro irmão está com fome, vai precisar mais do que eu, que almocei hoje.

Também, entre o casal e os filhos pequenos:

Vocês tem outros filhos?

Sim, mais dois.

E não vai levar refeições para eles?

Não, eles jantam na escola.

Cátia e Rosana saem do Tatuapé rumo ao centro histórico. Outra dupla distribui os alimentos em outros dois pontos, também na região central. A ação é coordenada por Priscila.

Cátia, além de entregar as marmitas também dirige o carro. Neste dia, foram distribuídas 600 refeições, bem abaixo do usual, 850 unidades.

Ela conta que a Igreja tem recebido poucas doações, e faltam ingredientes para preparar os alimentos. Inacreditavelmente, as doações diminuíram nas ultimas semanas, tão logo as restrições da #pandemia se flexibilizaram.

Fica a pergunta: seria a crise financeira? A inflação? Ou a fome alheia não afeta mais, foi normalizada?

Faz bem ao coração e à alma ajudar o próximo

Cátia Cilene Falci Hilária

A paróquia não aceita dinheiro, apenas alimentos. Do sal e óleo ao macarrão, fubá, arroz, feijão, a mistura e os temperos que fazem toda a diferença no prazer de quem cozinha e no paladar de quem se alimenta.

Cátia lamenta a diminuição das doações, mas segue em frente na sua luta contra a fome na cidade mais rica do Brasil, #SãoPaulo. Ela sabe que está fazendo a parte dela, numa ação coletiva de pessoas que se importam.

A fome dói

Cada #pessoaemsituaçãoderua tem uma história para contar, basta querer ouvir… A diversidade é retratada na rua: tem gente de toda idade, diferentes cores, etnias, identidades de gênero. As mulheres são minoria, geralmente integradas à famílias, que empobreceram ao longo dos dois anos de #pandemia e, sem emprego e carentes de assistência social, foram moram na rua.

Chama a atenção a postura de um senhor, sentada na beirada de uma calçada com um grupo heterogêneo. Tanto pelas roupas, a limpeza e na sequência na fala.

Aos 75 anos parece mais jovem, apesar da história de vida. Ribeiro é português, e por 14 anos serviu a Marinha de Guerra. Sem filhos, quando perdeu a esposa se viu sozinho. Migrou para o Brasil e ficou por aqui. Ser sem-teto, para ele, é um estilo de vida.

Cícero é pernambucano e parece ter menos do que os seus 48 anos. Ele diz que viver na rua é consequência do desemprego, da solidão, das drogas… E segue vivendo, bem-humorado.

Douglas, 32, é mais calado. Diz que foi morar na rua em razão do desemprego e falta de renda quando é interropido:

-Falta de emprego? Sou vagabundo, mesmo, mas trabalhador. o “anônimo”. Argumenta que vive à margem da sociedade por escolha, desagregado que é, mas contribui “catando latinhas” para reciclagem. Provando, ele despeja o conteúdo do saco na calçada para todos verem.

As mulheres são mais discretas: algumas chegam devagarzinho para ouvir a conversa, dão um sorriso, mas se calam. Outra dizem que não vivem em calçada, mas em ocupações embaixo de viadutos e pontes com as famílias.

Convite

Neste domingo, dia de almoço com a família, que tal separar uma porção e doar para alguém em situação de rua. Certamente haverá alguém vivendo numa calçada próximo da sua casa… Ou separar parte dos recursos da dispensa e doar para instituições e voluntários que doam tempo, palavra, carinho, atenção e refeições?

Ironicamente, o grupo partilha a refeição doada pro voluntário a poucos metros onde está instalado o painel que sinaliza a arrecadação de impostos, o #impostometro. Ele nos convida a refletir sobre a gestão dos recursos públicos…

Se o Estado não cuida, cuidemos nós.

Vida para o povo pobre brasileiro!

Viva o povo da rua do Brasil.

Paróquia Santo Antônio de Lisboa

(11) 2197-5493

Obras Padre Júlio Lancellotti

PIX 63.089.825/0097-96

Foto: Arquivo pessoal

Adriana do Amaral é jornalista profissional (mtb 16447), doutoranda e mestre em Comunicação Social pela Umesp. Mãe do Augusto e da Cristina.

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