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MERCADO DE TRABALHO E O PESO DO PRECONCEITO

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Há um ano a professora de sociologia Bruna Giorjiani de Arruda, 29 anos enfrentou o que descreveu como sendo um dos piores momentos de sua vida, onded elaa passou por preconceito sobre o seeu peso. Aprovada em segundo lugar em um concurso da rede estadual de ensino e convocada na primeira chamada, ela não pode assumir o cargo. “Ao passar pela perícia médica, apresentei todos os meus exames. Ao sair da consulta, em uma conversa informal com uma das atendentes, ela me questionou se eu estava nervosa por conta do meu peso. Não hora não entendi muito bem. Cinco dias depois, saiu minha negação. Eu não estava apta”, conta Bruna. O motivo da recusa, Bruna tinha obesidade mórbida. “O meu Índice de Massa Corporal (IMC) estava em 40,4, sendo até 39 obesidades grau III, e acima dos 40, obesidade mórbida.  Fiquei com uma mágoa, com uma raiva que nem consigo descrever.  Eu era apta para exercer a função, até porque já dava aulas na rede estadual há sete anos e meus exames não apresentavam nenhuma alteração, minha saúde estava em dia, pois faço acompanhamento médico anual”, relata. Indignada com a situação, Bruna decidiu lutar pela vaga a qual tinha direito, mobilizou a imprensa, redes socais e depois de várias viagens a São Paulo e quatro quilos a menos foi aprovada.

Mara Lúcia Madureira, psicóloga especialista em psicoterapia clínica cognitivo- -comportamental e dependência química, ressalta que o excesso de peso e a obesidade tem se tornado em muitas empresas motivo de assédio moral, rejeição no processo seletivo e causa demissional. “É inconcebível desqualificar o profissional por estar acima do peso ou ser obeso. Tratá-lo como incapaz ou desleixado, julgar seu trabalho inferior e questionar sua competência técnica por tais razões, são expressões de crueldade. Um tipo de violência que visa humilhar e desestabilizar emocionalmente o profissional”, ressalta.

A professora de sociologia ressalta que decidiu dar notoriedade ao caso, primeiro porque queria a vaga a qual tinha direito e também, alertar a sociedade como um todo de que é preciso tratar pessoas como pessoas e não como coisas. “O sistema econômico em que vivemos não nos barra por se preocupar com nossa saúde e querer nos forçar a emagrecer. Esse sistema nos observa apenas enquanto coisas, máquinas que não podem adoecer senão diminuem a produção. Como socióloga eu discuto diariamente nas minhas aulas, vários tipos de preconceito suas consequências. A realidade é ainda mais dura, já que sabemos que existem várias outras discriminações, ainda nos dias atuais, contra negros, mulheres, deficientes.  Orgulhamo-nos tanto de nossa racionalidade, mas no entanto, frente ao mercado de trabalho ou a valorização social, não nos apegamos na inteligência, na competência ou nas qualidades. Mas sim, em aspectos físicos, vazios de referência e importância”, afirma Bruna.

Cansada de viver situações constrangedoras no dia a dia, de risadinhas de canto de boca e piadas sem graça, a modelo e Miss Brasil Plus Size de São José do Rio Preto Evelise Nascimento, 25 anos, conta que já recorreu a dietas milagrosas para ema[1]grecer, mas todas sem sucesso. “Quando chego em um local e as pessoas ficam me olhando, é aquele pensamento que sempre me vem à mente “gordo não pode trabalhar e ter uma vida social normal? ”. É muito difícil enfrentar essa situação que ocorre com muita frequência”, afirma. Após lutar anos contra a balança, e que[1]rer ser magra, sem muito sucesso, Evelise decidiu dar a volta por cima, e há dois anos, depois de uma indicação de uma amiga e cliente do salão que trabalhava como manicure, ela participou de um concurso de beleza plus-size e ficou entre as dez gordinhas mais bonitas do Brasil. “E foi depois desse concurso que decidi que iria investir nessa carreira. E que me aceitar, me amar e me achar bonita mesmo estando fora dos padrões estabelecidos pela sociedade, seria a melhor escolha”, ressalta. Ela afirma que mesmo depois de ser modelo, os comentários preconceituosos continuam. “Mas hoje já não me fazem mal como antes.  Acho que os empresários deveriam pensar unicamente no profissionalismo do candidato, não se ele é gordo, magro, negro, branco, alto, baixo para definir o seu potencial e sua competência”, afirma Evelise. Mara Lúcia reconhece que o excesso de peso e a obesidade são uma preocupação crescente em todo o mundo e que no Brasil são gastos cerca de R$ 500 bilhões por ano pelo Sistema Único de Saúde (SUS) com intervenções cirúrgicas e trata[1]mentos para doenças causadas pelo peso. Mas afirma que a estética não pode estar acima da ética das empresas, das qualificações, competências e comprometi[1]mento com o trabalho dos colaboradores. “Não são as pessoas com excesso de peso que precisam provar que são capazes tanto ou mais que os magros para conseguir ou manter-se no emprego. Mas os líderes das empresas devem assegurar os princípios básicos de convivência, resguardar todo trabalhador de atentado contra sua dignidade, combater e repudiar toda forma de discriminação, violação ou desrespeito a dignidade humana.” A obesidade já é considerada epidemia do século pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

OS RISCOS DA OBESIDADE

Muito se fala em excesso de peso e os riscos que causa para a saúde tanto do homem como da mulher. Dados estatísticos revelam que mais de 50% da população brasileira adulta sofre desse mal. Para o presidente do departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Mário Kedhi Carra, essa situação é muito preocupante.  “É necessário a criação de políticas públicas para estimular o consumo de verduras, legumes, frutas, ou seja, uma alimentação equilibrada e saudável.  Campanhas de incentivo, publicidade, na verdade isso tem que começar na escola, com as crianças, são elas que vão levar esses conhecimentos aos pais e cobrar deles. Os adultos já não assimilam mais essas informações, na maioria dos casos estão muito acostumados a comer errado”, disse. Carra ressalta que o excesso de peso torna a pessoa mais propensa a desenvolver doenças como diabetes, colesterol, alteração da pressão arterial, entre outras. “Com certeza trata-se de um ser humano muito mais suscetível a doenças e por consequência, até um pouco discriminado no mercado de trabalho, porque o empregador olha e imagina que deverá ser um funcionário que terá mais problemas de saúde, e que vai faltar muito mais do trabalho, por exemplo. ” O conceito de alimentação saudável, não determina que deva se abolir carne, peixe, ovos, por exemplo, mais sim consumir com moderação esses alimentos e introduzir cinco porções diárias de frutas, legumes, verduras e hortaliças. “É preciso ter muito cuidado e evitar gordura, frituras e açúcar. O excesso de peso é sim uma preocupação crescente, é preciso haver uma união de forças para combater esse mal”, enfatizou o presidente do departamento de Obesidade da SBEM.

PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO GERAM ‘MOVIMENTO CONTRA A GORDOFOBIA

Cansada de ouvir comentários maldosos, piadinhas sem graça e até de ser discriminada a modelo e Miss Brasil Plus Size São José do Rio Preto e região Evelise Nas[1]cimento, decidiu criar um movimento contra a gordofobia. “O #ShiuProSeuPreconceito surgiu, realmente quando eu e outras modelos fomos fazer uma campanha em Brasília, e diante de uma situação preconceituosa que vivemos no hotel em que estávamos hospedadas, fomos para a frente do Congresso Nacional e nos fotografamos apenas de calcinha. As imagens rodaram as redes sociais e ganharam muita repercussão, e diante disso, decidimos criar um movimento para denunciar essas atitudes discriminatórias”, explica. Atualmente ela e a Miss Brasil Plus Size Baixada Santista, Flávia Soares, lideram um grupo de mulheres que relatam suas histórias e trocam experiências.  “Através desses contatos, nos motivamos umas com as histórias das outras e superamos os traumas e aprendemos a nos aceitar e nos amar como somos. Uso minhas redes sociais para me comunicar com elas, mostrando que podem sim ser bonitas, independente do peso e aproveito e posto dicas de roupas, modelos, cores, sapatos, maquiagem e outras coisas”, disse Evelise.  Mesmo com toda a repercussão do movimento, e o aumento a cada dia de seguidores, o que a Evelise e todas as pessoas que sofrem com o preconceito e a discriminação desejam é que sejam criadas leis mais severas para punir quem cometer esses atos.

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